Um dos fatos históricos pouco narrados e conhecidos na História do Brasil e na História de Icó, é a história dos Judeus e a sua participação na construção de nossa história.
Fato é que muitos de nós somos descendentes diretos de “Cristãos Novos” ou “Marranos”, sejam judeus que se “convertiam” ao Catolicismo.
Com essa conversão os sobrenomes de origem judaica eram apagados e transformados em novos sobrenomes portugueses. Isso sé dava por questões de sobrevivência e não por uma questão de fé, pois “os judeus não convertidos ao catolicismo tinham os seus bens confiscados e/ou recebiam a condenação à morte na fogueira, por traição, heresia, bruxaria, ou por impureza de sangue.
Na Bahia e em Pernambuco, nesse sentido, em 1591 e 1618, ocorreram duas visitações do Tribunal do Santo Ofício” (Vainsencher, Semira Adler).Muitos dos colonizadores que vieram para o Novo Mundo (espanhóis e portugueses) nos séculos iniciais da fundação do Brasil (XVI e XVII) eram degredados, que tinham sido julgados por práticas religiosas judaicas realizadas às escondidas ou mesmo a presunção de tais práticas.
Chegando ao Brasil essas pessoas exerciam várias profissões: comerciantes, ourives, médicos, músicos, advogados, transformavam-se em donos de engenhos de açúcar, aventuravam-se a desbravar os sertões na expansão da criação do gado, na exportação do couro e do charque e nas atividades comerciais (mercadores), tanto como mascates (ambulantes, usado também como termo pejorativo a partir da guerra dos "mascates, sec. XVIII) ou como comerciantes fixos.
Com a expulsão dos holandeses de Pernambuco, ao final do século XVII, as sinagogas foram fechadas e o seguimento do judaismo proibido definitivamente. Aos judeus e seus descendentes restaram poucas alternativas religiosas: Ou converterem-se definitivamente ao Catolicismo, mesmo que fosse "de fachada", continuando os retuais discretamente no âmbito doméstico. Isso para garantir a segurança e a própria vida e aceitação social.
A conversão ao catolicismo se afigurava como a melhor saída, não repassando mais aos descendentes a milenar tradição religiosa. Muitos desses judeus, após a expulsão dos holandeses de Pernambuco, adentraram os sertões.
A próspera Vila do Icó era um excelente local para o estabelecimento de sua nova pátria. Longe da influência da Igreja Católica, nas terras distantes do litoral e ainda desbravadas, poderiam constituir famílias, construir riquezas, distante da perseguição milenar.
As origens judaicas eram mantidas em total segredo, de forma que mesmo as gerações posteriores desconhecem as suas origens. Um exemplo bem claro destes fatos é o sobrenome Klaim (pequeno), mas foi a que deu origem a ramos da família Teixeira Mendes, de cuja casa o Coronel João André Teixeira Mendes, o Canela-Preta (17/03/1891 - 1874), do qual era membro.
Como também o Patriarca do clã Dias do Icó, tradicional família Pernambucana e Paraibana de origem judaica: Frutuoso Dias, oriundo de Goiana, Pernambuco, avô da lendária Joana Isabel Dias, a Dona Janoca do Icó (1848-1935), que gerou numerosa prole e mesmo a família "Canção" (Correia Lima) que teve maior desenvolvimento em Lavras da Mangabeira, pertencente anteriormente às terras do Icó.
Muitos desses homens e mulheres de origem judaicas jazem no secular cemitério do Icó, ou foram inumados no interior das igrejas, mantidas em segredo suas reais etnias e origens, todavia a reconstrução das árvores genealógicas das famílias de origens judaicas é tarefa quase impossível por quase total ausência documental, restando apenas analisar resquícios ainda presentes na gerações atuais, totalmente aclimatada na cultura sertaneja.
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Washington Luiz Peixoto Vieira (texto reeditado)
Referências cunsultadas:KAHAL Zur Israel: Congregação Rochedo de Israel: resgate da memória da 1a. Sinagoga das Américas. Recife: Fundação Safra/Centro Cultural Judaico de Pernambuco, 2001.KAUFMAN, Tânia Neumann.
Passos perdidos – História recuperada: a presença judaica em Pernambuco. Recife: Edição do Autor, 2000.LARGMAN, Esther Regina. Judeus nos trópicos: a comunidade judaica da Bahia de 1912 a 1945. Morashá, São Paulo,a. 10, n. 36, p.49-53, mar. 2002.
1. João André Teixeira - João André Teixeira Mendes, vulgo Canela Preta, do Icó. Segundo a tradição, esse apelido Canela Preta, de João André, lhe foi dado porque usava constantemente umas botas pretas de cano longo. Segundo João Brígido, a intriga entre João André e os Cavalcantes, da vila do Icó, procedeu de um pasquim. Intriga esta que produziu a bagatela de umas vinte mortes, afora ferimentos, pancadas e processos.
O sargento-mor João André Teixeira Mendes, criador e negociante de fazendas, homem irascível, violento e loquaz, nasceu a 17 de março de 1781, na freguesia do Icó-Ce, era filho de Manoel Alexandre Teixeira Mendes e de Maria Catarina Sebastiana de Arendes.
Foi condenado à pena máxima, a morte, por um de seus crimes, porém, a condenação foi comutada em 20 anos de degredo para o rio Negro. Na administração do Padre Vicente Pires da Motta (1854-1855), João André voltou ao Ceará. Viveu em contínuas querelas até morrer em 1874, cego, aos 93 anos de idade.
Fontes: http://www.mariapereiraweb.net/?area=historia_1vigario
http://www.familiascearenses.com.br/images/FRUTUOSO.pdf
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* Texto escrito por Washington Luiz Peixoto Vieira - Blog Opinion
2 comentários :
Gostei da materia sobre judeus em Icó.É possível sim, mas também sabemos que o inicio da migração árabe começou pela península ibérica entre Portugal e Espanha. O conhecimento marítimo que os portugueses obtinham foram adquiridos pela invasão moura. Então acho pouco provavel que no inicio da colonização do Brasil pudese haver algum judeu, pois mesmo que esses cristãos novos tivesse chegado aqui, eles já traziam consigo a mudança de seus nomes. Não digo que aja equívoco na materia, mas que poderiamos avançar um pouco mais nesse sentido. No mais, como filho do Icó e casado com uma católica de origem judáica, reconheço haver muito da cultura judáica em nossa terra. É isso.
Meu email é: fgdeoliveira@hotmail.com
Boa noite! Tenho um vídeo com uma entrevista do Frei Rogério, Carmelita, Padre desta cidade. Ele se encontra na página: www.youtube.com/olharjornalistico
Grande abraço e parabéns pelo trabalho.
Frei Petrônio, São Paulo
01 de setembro-2011.
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