Que é a mais pura alienação, ninguém tem dúvidas, mas que muitos não conseguem se desconectar, também não há por que duvidar. Esta é a realidade de milhões de brasileiros que sentam todas as noites diante da televisão, principalmente Rede Globo, para o deleite com as cenas e tramas das novelas.
Com temas diversificados, atualizados e polêmicos, alimentados por cenas picantes, muitas vezes impróprias para o cinema, as novelas têm público garantido e faturam alto, lançam modas, vendem tudo quanto querem e mudam os comportamentos, desde os mais modernos até os mais conservadores.
Na balada das novelas moças e rapazes se prostituem com imensa facilidade, casais se juntam e se separam, traem, matam e roubam. Executivos e políticos se corrompem e se arrependem dos males praticados e, como sempre, no final todos casam e são felizes para sempre.
A vida real é diferente, bem diferente, e muita gente se aliena tanto que pensa ser possível viver a vida das novelas. Os programas chamados de reality show, com fórmulas criadas pela gigantesca e poderosa indústria do áudio visual americano, importadas pelas redes televisivas tupiniquins, também prosperam na terra de Cabral.
Big Brothers Brasil que o diga. Milhões arrecadados em ligações telefônicas, milhares de assinaturas em rede a cabo da própria Globo e milhões de telespectadores grudados na televisão para interagirem com a leviandade, com o descompromisso e com inutilidade que transforma desconhecidos transeuntes de uma cidade qualquer em celebridades nacionais, candidatos a milionários pela simples mágica de exposição diária e permanente.
Mas o prostíbulo televisivo testemunhado por milhões, abastece os cofres da Globo e Pedro Bial, conceituado jornalista, certamente não se submeteria a tão desqualificado papel se não fosse vencido pelo delicioso prazer de contabilizar fabulosos ganhos que engordam sua caderneta de poupança.
Os outros canais, as outras redes, também não ficam por menos e raramente alguma se preocupa em colocar no ar algo que seja deglutível por quem tem algum neurônio disponível. Mas há muito por trás dos beijos de novelas.
Os bastidores da política e também dos grandes grupos corporativos estão abarrotados de coisas ruins e seriam visitados por uma população educada que fosse bem mais exigente. Bilhões e milhões de reais são queimados diariamente no país por aqueles que receberam do povo a procuração para representá-los.
Leis e mais leis são feitas para protegerem e acobertarem falcatruas e corrupções que queimam o precioso dinheiro que seria útil na melhoria das condições de vida da população. No sistema político brasileiro o eleito não é mais o representante do povo, transforma-se, como na novela dos mutantes, em dono do povo, do dinheiro do povo e da vida do povo.
Depois do pleito, o povo, como em trama de novela, aplaude o que era pobre e ficou rico, o que era fraco e ficou forte, o que era nada e agora é tudo. Aquele que antes era acessível, agora é o todo poderoso, cercado por portas e guarda costas, blindado por aparato pago com dinheiro público para se proteger do público.
Os necessitados por saúde pública continuam arrastando suas necessidades até o último suspiro ungido pelo sinal da cruz e partem com a certeza de que “Deus se lembra dos pobres e desvalidos e que morrem daquela forma porque Deus assim deseja”.
Milhares de crianças que aspiram uma vida melhor através da escola se desestimulam pelo cansaço e fadiga de uma escola atrasada, descomprometida e que transporta alunos em grades de caminhões atravessando estradas esburacadas dos municípios do Brasil. Todavia, secretários e prefeitos esbanjam luxo e riqueza em carros importados, confortáveis e protegidos.
Pagos, como não poderia deixar de ser, com o dinheiro público, do qual se sentem donos. A televisão, e a imprensa como um todo, bem que poderiam se colocar a serviço desta realidade deixando o povo pensar sobre o mal que cria para si mesmo. A televisão cria mitos super poderosos e os destroem tão logo se tornem desnecessários.
Foi assim com Collor de Melo e com Renan Calheiros, somente para lembrar dois exemplos no meio de muitos. Há muito mais para se ler nas entrelinhas de revistas e jornais do que nas manchetes.
Também há muito mais por trás das câmeras do que na adorável imagem da “santinha” que beija o “peão” enquanto milhões de suspiros respingam pela sala. Há muitas coisas boas na televisão, mas a mídia não é direcionada para elas. É muito mais doce alienar pessoas com o modismo que vende e o beijo que entorpece.
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