Um dos comeciantes mais folclóricos do de Icó e do Ceará, João Belo foi destaque hoje no Caderno Regional, do Jornal Diário do Nordeste. Essa pessoa que faz parte das estórias da cidade icoense foi entrevistada e contou como foi sua vida e o trabalho no comércio, que sustenta há tanto tempo. Confira a matéria: "Comerciante é figura folclórica no Centro-Sul.
Com seu jeito próprio de atender e a forma de vender, com os preços muito baixos, João Belo conquista todos de Icó.
Icó. Para o comerciante João Belo da Silva, 71 anos, o tempo parece não ter passado. Instalado há décadas no Centro desta cidade, permanece trabalhando firme, diariamente, atendendo dezenas de fregueses no pé do balcão. É um tipo folclórico por suas idéias na política e no comércio que pratica vendendo muitas vezes mercadorias por um preço abaixo do custo. Por isso, já quebrou várias vezes.
João Belo não sabe ler e nem escrever, mas tem facilidade para as contas de cabeça, na folha de papel. Não precisa de calculadora e quem chega ao seu estabelecimento para trabalhar tem que saber a tabuada, direitinho, e rápido. “Essa é a primeira lição”, diz. “O certo é o preço da mercadoria relacionado na folha de papel, um abaixo do outro, para fazer a soma na frente do freguês”.
O seu jeito próprio de ser, gostar de falar muito, cumprimentar a freguesia sempre como novas idéias sobre os mais diversos assuntos, são características que, ao longo dos anos, forjaram a vida do comerciante Belo, que nasceu na zona rural de Icó e trabalhou na agricultura até os 17 anos de idade, ao lado do pai.
“Por minha conta só plantei dois anos”, recorda. “No primeiro, o rio encheu e tomou tudo; e no segundo deu bom, ganhei dinheiro, mas resolvi não arriscar outra vez”.
Dificuldades - Veio para a cidade e começou a vida como feirante e depois comerciante de secos e molhados. O endereço atual, na Rua Benjamin Constant, é uma referência há décadas. Por algum tempo, ganhou dinheiro, enfrentou do jeito próprio os sucessivos planos econômicos, as mudanças de moeda e a inflação, mas desde o último grande ajuste na economia nacional, a partir da implantação do Plano Real, vem enfrentando dificuldades.
“A vida da gente é dada por Deus e se for pra ser rica, a pessoa é”, sentencia, em tom profético. Mas como pode dar certo um comércio que costuma vender produtos abaixo do custo? Belo responde: “Vender ganhando é fácil, qualquer um faz, mas eu quero ver é comprar por dez e vender por nove. Eu sou ‘teco’ (técnico), sei fazer”, diz ele.
Falências - Essa prática sempre levou João Belo a sucessivos baques. Faliu várias vezes. “Quando a gente quebra o jeito é começar de novo”, diz. Não vende fiado e a característica de comercializar a preço baixo atrai centenas de clientes o que lhe permite sempre uma rotação de mercadorias e compra de fornecedores diversos. Entretanto, essa situação faz com que o comerciante não consiga honrar todos os débitos com os atacadistas, que esperam um pagamento futuro.
Antes da implantação do Plano Real estava com os negócios em bom ritmo de crescimento. Comprou caminhões e distribuiu mercadorias no mercado local. Veio a mudança da moeda e o financiamento por meio de Leasing, com taxas de juros elevados, inviabilizaram o pagamento dos veículos que foram recolhidos pelo banco, por meio judicial, mesmo com várias prestações liquidadas. “Quebrei”, diz. “Se fosse mole, tinha desistido”.
Perseverança - Aos 71 anos, ele não pensa em parar. Pai de seis filhos, a maioria já trabalhou com ele, mas atualmente só tem um que ajuda. “Estou testando”, diz em tom de brincadeira. “Ele só quer ficar no caixa”. O balcão antigo separa os fregueses dos produtos.
As mercadorias estão espalhadas nas prateleiras e no chão. É visível o descontrole do negócio, pois Belo é quem calcula o preço dos produtos sem levar em conta despesas e pagamento de impostos e de outras taxas. No caixa, não há registro de entrada e nem da saída de dinheiro.
Mas não trabalha sozinho. Há mais de 20 anos, Maria Dolores de Lima trabalha com João Belo. Está acostumada ao jeito do patrão. “Ele sempre foi assim, muito falador, cheio de idéias interessantes”, diz.
A outra empregada é Patrícia Cornélio, que está há um ano no negócio, como vendedora. “O jeito dele é que atrai os fregueses”, afirma. “A primeira coisa que ele pediu foi que aprendesse a somar de cabeça”. Diariamente, centenas de fregueses passam na mercearia de João Belo, garantindo o fluxo dos negócios.
IDÉIA - Empresário sonha em ser vereador ou prefeito - João Belo não é apenas conhecido por ser comerciante antigo, vender produtos abaixo do custo e gostar de conversar em demasia. A propósito, se o interlocutor não ficar atento, raciocinar rápido, não acompanha as idéias do empresário, que são muitas e esquisitas. Alguns até absurdas. Analfabeto, Belo foi o único candidato a vereador, dentre um grupo de 41, que não conseguiu passar num teste realizado pela Justiça Eleitoral de Icó para as eleições municipais do último dia 5 de outubro. “Perdi o prazo para entrar com recurso. Desta vez, seria eleito”. O postulante reprovado reclamou da prova e disse que candidatos cheios de problemas foram aprovados. “Isso é um absurdo”.
O curioso é que há quatro anos, ele foi candidato a vereador e obteve 28 votos. “Não trabalhei. Foi de última hora. Desta vez estava tranqüilo pois ia visitar todo mundo. Os eleitores ficam esperando pelos candidatos e só aqui na mercearia passam 500 pessoas por dia”.
Belo sonha em ser vereador ou Prefeito de Icó. “Comigo tudo seria diferente. Se o prefeito trabalha sério não precisa de vereador que só vota nos projetos em troca de favores e de dinheiro”. Disse que abriria as portas do gabinete para atender a todos os moradores sem distinção e sem sala de espera. “É tudo junto, aberto, num espaço grande para ouvir a necessidade do povo. É preciso ser honesto, dá trabalho para todos os moradores e pagar em dia. Se sobrasse dinheiro iria cuidar de outras coisas”.
Na visão de João Belo, os bandidos também seriam convocados a trabalhar. “Assim não precisava de polícia porque convocava os bandidos e eles iriam trabalhar e ganhar salário, vigiando, fiscalizando. Dessa forma acabava com a desordem e a violência”, acredita.
Mais informações:Mercearia do João Belo
Localizada na Rua Benjamin Constant, 23, no Centro do município de Icó
Centro-Sul
Matéria de Honório Barbosa (Repórter)"
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