
O fim de ano, em nosso Icó, é marcado por um ciclo extenso de festividades sagradas e profanas, que passa por todo o Advento, inclui o Natal e chega à Epifania (Festa de Reis).
Difícil identificar onde se inicia o “Sagrado” e onde se encerra o “Profano”. Em verdade este ciclo festivo constitui um Patrimônio Cultural Imaterial. Refletem a alma do povo. Ainda não tombado como tal, porém ali estão todos os elementos para que aquele período de cultura popular e religiosa fosse registrado e protegido pela gestão pública de modificações que aos poucos vão se incorporando à festa e a descaracterizando, seja no âmbito litúrgico ou das festividades populares.
Os fogos constituem um dos elementos centrais deste Patrimônio Cultural. Houve tempo em que era contestado o que se gosto em recursos financeiros com tamanha quantidade de pólvora numa terra, numa região em que os índices de pobreza são alarmantes. Porém os fogos são simplesmente um desperdício, eles fazem parte dos elementos culturais que ajudam a fortalecer a identidade cultural do povo icoense e talvez até da região centro-sul do estado do Ceará.
Como patrimônio cultural imaterial essas tradições dos tempos coloniais são mantidas. São símbolos remanescentes de um Catolicismo Rural, onde predominavam a cultura da criação do gado bovino e do algodão desde o século XVII.
É interessante observar que as devoções religiosas, não foram criadas pela Igreja Católica, através de sua hierarquia, mas de iniciativas particulares e de leigos, de forma que:
- A Igreja de Nossa Senhora da Expectação pela família Monte, no século XVII, sobre a sepultura de sua filha e;- A Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Monte, foi iniciativa de um membro da Casa da Torre, seja uma pessoa na Nobreza da Bahia Casa de Gardia D’avila responsável pela interiorização do gado, no século XVIII (1750);
- A Igreja do Senhor do Bonfim foi construída por Bento da Silva, primeiro Capitão-Mor de Icó, em 1749, para abrigar a imagem do Senhor do Bonfim, elaborada na Bahia e de sua propriedade, que aos poucos tornou-se de devoção pública.
Vê-se, portanto, que foram iniciativas particulares e note que não havia a participação de clero nessas devoções festas religiosas. Eram devoções privadas e que mantinham distância dos sacramentos e liturgias oficiais; eram a expressão da laicitudade e do culto dos santos tradicionais portugueses, como era o exemplo da tradicional "Adoração" ao Senhor do Bonfim, que persistiu por séculos, até sofrer a interferência direta das autoridades eclesiásticas, de forma que a participação dos leigos aos poucos foi sendo desvinculado dos leigos e passando para a autoridade direta dos vigários.
Esse afastamento dos leigos já gerou (e gera ainda) conflitos de interesses, inclusive atos de brigas e até violências, nas decisões "pastorais" ou "culturais", como se pode ainda observar ao final de 2007, quando Vigário e Secretário de Cultura do Município chegaram às vias de fato.
______________________
* Com informações de Washington Luiz Peixoto Vieira, no blog Opinion______________________
0 comentários :
Postar um comentário