NOGUEIRA ACIOLY*

Em 1995, estávamos em plena efervescência de nosso efêmero mandato de vereador do município de Icó, aos 25 anos de idade.

Fizemos um estudo minucioso acerca dos nomes das ruas da urbe. A maioria não tinha nome algum. Outras tantas, denominações que nada tinha haver com a nossa história. Ademais, mudou pouca coisa nestes anos que se passaram; as ruas continuam sem significado algum.

Vereador, em Icó, caracterizava-se apenas por requerimentos “tolos” ou, registre-se, sugerir nomes de ruas e distribuições imbecis de “títulos de cidadania”.

O vereador Júnior Abreu (PT) e este blogueiro eram os únicos que apresentavam projetos de lei, de indicação, emenda a lei orgânica e, que muitas vezes, visitavam o TCM – Tribunal de Contas dos Municípios, no intuito de verificar o que entrava e saia dos cofres públicos do Icó e, principalmente sua aplicação.

Júnior era o doido de Zé Abreu e, eu, dispenso até os adjetivos pejorativos lançados. Fizemos a nossa parte com galhardia.

Voltando ao assunto, é verdade que apresentei alguns projetos neste sentido (títulos de cidadania), mas sempre o fiz com muita responsabilidade.

Destaco: Inspetor Barbosa, policial exemplar e extraordinário chefe de família; Raimundo Eduardo de Freitas (Dico), comerciante, vereador, ex-perfeito, sinônimo de honradez; José Abreu, prestimoso cidadão, amante da boa música e que por muito tempo prestou serviços na condição de farmacêutico prático; Dr. Francisco Rossini, advogado, um dos decanos do Ceará, não tenho dúvidas, cidadão mais querido e respeitado do Icó. Dr. Rossini é uma unanimidade. Nós, do Icó, o amamos.

Pois bem, inquieto com os nomes das ruas de Icó, resolvi mudar algumas, através de projeto de lei.

A principal Avenida do Icó, denominada de Nogueira Acioly, que congrega o coração e o seu centro comercial. Onde tudo acontece. Emprego, renda, discussão, bom-papo, lanches e cafezinhos, impostos, desenvolvimento, alegria e tristeza.

Tudo ocorre naquele espaço, quente e seco, do Icó.

Então, comecei a ler. O que posso fazer? Nogueira Acioly, nasceu em Icó, é verdade. A sua história, um verdadeiro monturo, desprezível e vergonhoso, na sua fase política e humana.

Daí apresentei projeto, sugerindo aos colegas vereadores, que doravante, a famosa Avenida Nogueira Acioly, do Icó, fosse denominada de prefeito Walfrido Monteiro.

Resultado: meu projeto foi rejeitado. O motivo: os comerciantes fizeram trabalho, para derrotá-lo, junto aos vereadores, alegando, em síntese, que iam gastar muito dinheiro com a mudança do nome, pois, todas as notas-fiscais teriam que ser confeccionadas novamente.

Coisas de um Icó pequeno em desenvolvimento e ideias, infelizmente.

Deixo, para a analise, o resumo da história do nosso conterrâneo Nogueira Acioly. Seja o juiz da reflexão.

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NOGUEIRA ACIOLY -

Nogueira Acioly, filho do coronel José Pinto Nogueira, do Icó, nascido naquela vila em 11 de outubro de 1840. Desde muito cedo, mostrou habilidades para ciências jurídicas. Com 17 anos de idade, foi mandado para a escola de Direito de Recife, onde se bacharelou em 1864.

Retornando ao Ceará, com facilidade ingressou no serviço público, graças ao prestígio político do pai. Assim, sucessivamente, foi promotor de justiça em Icó, Juiz de Direito em Baturité e em Fortaleza.

Casou-se com a filha do Senador Pompeu, Maria Tereza de Sousa. Logo o Dr. Acioly assumiu a gerência dos negócios do sogro, com forte influência também na política. Durante 13 anos, Acioly “cuidou” dos negócios do sogro; isto significou um estágio relativamente longo, preparando-se para exercer a liderança do grupo dos Pompeus por trinta e cinco anos.

Com a morte do sogro, Senador Pompeu, Acioly assumiu a direção do partido Liberal no Ceará.

Na República, o contragolpe de Floriano Peixoto permitiu que ele fosse eleito Governador do Ceará. Daí começou a construir sua máquina política: nomeou parentes e pessoas de sua confiança para postos estratégicos e para o legislativo; manipulou o dinheiro público. Tinha o apoio de Pinheiro Machado e do Padre Cícero. Contra as oposições, usava o testerro, provocava mortes, empastelava jornais, massacrava manifestantes.

Nogueira Acioly chefiou a política no Estado do Ceará de 1878 a 1912.Nogueira Acioly pode ser considerado praticamente o ditador do Ceará em seus trinta e quatro anos de política. O Ceará viveu uma de suas fazes mais negras.

O nepotismo, a corrupção, o desvio de verbas era uma constante em seu governo. A máquina pública foi usada quase que exclusivamente em nome dos seus interesses, deixando o estado praticamente falido.

Um dos fatos mais marcantes em sua política autoritária foi o incidente ocorrido com Antônio Rodrigues Ferreira (o Boticário Ferreira), que ao sentir a enorme dificuldade que seu povo passava e o descaso do governo para com a epidemia de varíola que havia se instalado no Ceará, resolveu, então, distribuir medicamentos gratuitos.

Ao saber do fato, Nogueira Acioly expulsou Boticário Ferreira do Liceu do Ceará, onde exercia o cargo de professor de química e divulgou para a sociedade que tais remédios eram veneno. Proibiu terminantemente o seu consumo, levando a população a uma epidemia que ocasionou a morte de milhares de pessoas por uma simples intervenção brutal e desastrosa.

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* TEXTO DE FABRICIO MOREIRA DA COSTA

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Publicado por Jornalismo

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1 comentários :

Unknown disse...

Na qualidade de trineto do Comendador Accioly, e por conhecer profundamente a sua história, discordo totalmente do teor do comentário posto.Os "opositores" se esquecem que o primeiro "sanear" em Fortaleza foi implementado por ele, a criação da Faculdade de Direito,o trem da água e do pão que levava alívio aos cearenses vítimas da seca a da varíola, dentre outros atos nobres.Sugiro ao autor que procure se inteirar mais a repeito do Comendador Accioly, pois ele nunca foi o que pregam.Lembre:nem tudo agrada a todos, e nem todos agradam todo mundo.