O Brasil visto em duas rodas e por outras lentes Conhecer o Brasil montado em uma bicicleta não é coisa para qualquer um. Embora sempre passe pela cabeça de algum aventureiro, a disposição para enfrentar chuva, sol e cansaço na solidão da estrada, desanima muitos somente em pensar.
Janilton Ferreira é um desses aventureiros que um dia pegou a estrada e não soube mais parar. 54 anos, casado, morador de Itajaí – Santa Catarina, sua única grande propriedade é uma bicicleta Monark que mantém sempre em boas condições de funcionamento, embora com a aparência surrada depois de 22 anos de idas e vindas pelas estradas do Brasil.
Desde 1987 tomou a decisão de viajar, percorrer o Brasil, conhecer cada cidade, cada vila e olhar o país de outra forma. Visitou 24 estados com suas capitais, conheceu 4.000 cidades, pedalou 100 mil km e já cruzou a fronteira para chegar ao Uruguai e Argentina.
A cada dois anos, aproximadamente, vai a Itajaí, vê a mulher os filhos, recebe conselhos para parar, mas não se agüenta. Quando menos se espera está novamente na estrada. Aposentado por invalidez leva sempre o cartão onde saca a aposentadoria, mas as despesas são sempre maiores e recorre a ajuda da prefeitura e instituições.
Fotografa tudo e tem vaidade em mostrar os registros que carrega com orgulho. Como artistas da Globo, no Projac, ou o presidente Lula, no Palácio do Planalto, quando foi recebido no gabinete e recebeu o apelido de "ciclista maluco" dado pelo próprio presidente.
Durante a caminhada já apareceu em diversos programas de televisão como Esporte Espetacular, Globo Esporte, Jornal Nacional, Fantástico e Record News. Em jornais tem centenas de registros de todos os grandes jornais do país e em Icó fez questão de visitar o Notícias do Vale.
Na bagagem, além de roupas e colecionadores com fotos e recortes de jornais leva também algumas ferramentas para concerto da bicicleta que ele chama carinhosamente de "Rebeca". O ciclista andante pretende completar sua caminhada com os 27 estados do Brasil e escrever um livro com o registro de suas andanças.
Depois vai parar? Pergunto. "Que nada, enquanto tiver coragem para pedalar seguirei em frente e ainda pretendo conhecer os Estados Unidos e a Alemanha", responde. Em Icó o ciclista admirou e elogiou o patrimônio histórico e disse ser uma das coisas mais bonitas que viu em suas caminhadas.
"A cidade é muito bonita, porém muito mal cuidada. A prefeitura deveria ter mais zelo com esta cidade", disse. O ciclista lamentou ainda que em dois dias que permaneceu na cidade não conseguiu falar com o prefeito para registrar em fotografia sua passagem, já que toda esta documentação será usada para apresentar a equipe organizadora do Guinness book, o livro dos Records.
Conhecida a cidade, feitos os registros, o Ciclista Maluco aperta a buzina de sua bike e segue em frente, andando cerca de 120 km por dia, conhecendo sempre uma realidade nova e partindo levando lembranças, sem nunca sentir saudade.
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* Texto escrito por Getúlio Oliveira, editor-chefe do Jornal Notícias do Vale
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