Icoenses que fazem história - Adília de Albuquerque Moraes

"Marche aux flambeaux" (marcha das tochas), de origem francesa,
foi repetida em Icó, no dia da libertação dos escravos
e narrado por Adília de Albuquerque


Uma das principais cronistas cearenses nasceria no Icó de 1874. Adília de Albuquerque Moraes seria uma das principais mulheres de seu tempo, militando na área das artes e cultra, educação e movimento de mulheres.

Sem informações de sua infância e estada em Icó, foi das mais entusiastas das visões desenvolvimentintas das paragens icoenses. Seu último sobrenome aparece tanto grafado de "Moraes" como "Morais".

Da discordância entre uma vogal de seu sobrenome, Adília aprenderia que unir educação, cultura e política seria a amálgama para melhores dias às mulheres e à sociedade. Perpassando entre a figura de educadora e escritora de jornais, participou das atividades da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, utilizando dos periódicos na divulgação d a campanha pelos direitos da mulher.

DESTAQUE NACIONAL - Seu destaque no campo feminino rendeu lhe o posto na obra "Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade (biográfico e ilustrado), de Schumaher e Érico Vital Brasil, Editora Zahar, 2000."

Batalhadora incansável, utilizava de sua notável inteligência e meios para difundir suas ideias. Em sua época, a mulher ainda era parte da população sem voz. Viu, no início da república, o voto ser um sonho para as mulheres, fato que somente aconteceria tempos mais tarde.

PIONEIRISMO - Participou do Partido Liberal Evolucionista do Ceará, feito inédito para a época, sendo uma das cinco candidatas na briga pelas eleições de 1934 para a a Câmara Federal e a Assembleia Constituinte do Ceará.

No total, o partido colocou 30 nomes, contestando o resultado logo após. Na ocasião, Albuquerque teve a candidatura impugnada, cujo slogan dela era "Para a defesa das mulheres". Nenhum dos candidatos do partido foram eleitos.

MONUMENTO DE IRACEMA - Outro fato que merece destaque e é citado na dissertação "Praia de Iracema: Fatores de Estagnação de um espaço turístico à beira-mar", trata da construção de um monumento do escritor cearense José de Alencar na beira-mar, em Fortaleza.

A colocação da estátua de Iracema, a índia narrada nas letras de Alencar, foi sugestão da icoense Adília, e tornou-se um dos principais símbolos da capital cearense, Fortaleza.

A ideia partiu da cronista social, em texto registrado no periódico Ceará Ilustrado. O fato agradou o público e a imprensa e foram rápidas as solicitações formais para que o nome da localidade também fosse mudado de "Praia do Peixe" para "Praia de Iracema".

COMUNICAÇÃO E CASAMENTO - O trabalho de Adília de Albuquerque ainda seria registrada na revista de Comunicação Social da UFC, quando de sua participação no Conselho Fiscal da faculdade, em 1934.

Antes, em um artigo publicado na "Ceará Ilustrado", em 08 de março de 1925, defenderia uma formação escolar no campo da arte. Foi no campo da Comunicação Social que Adília conheceria seu futuro esposo, o jornalista Tancredo Moraes. Sua morte seria destaque, no dia 02 de novembro de 1942, no Dia de Finados.

ICÓ E A LIBERTAÇÃO - Um capítulo em especial merece nossa atenção e que é narrado, de forma única e detalhadamente, é o dia 25 de março de 1883, que poderia ser um dia qualquer do século XIX. Mas não foi.

Foi este o dia que o Icó tornou-se a "primeira cidade livre do Império (Brasil)", fato descrito pela escritora icoense e destacado por Eusébio de Sousa, no artigo intitulado "Pela História do Ceará", publicado entre 1929 e 1930 pela Revista Trimestral do Instituto do Ceará. Em sua página 251 do periódico, afirma Sousa que:

"Adília de Albuquerque Moraes, espírito fulgurante, possuidor de invulgar talento, em bello artigo para a imprensa da terra, rememorou, há tempos, uma phase brilhantíssima da história da redempção de seu berço natal, a gloriosa Icó, primeira cidade livre do Império *

----- * A cidade de Baturité alforriou os seus escravos na mesma data de Icó - 25 de março de 1883. Cabe, entretanto, a esta última (Icó) por ser mais antiga que a outra por ordem de elevação (à cidade) ---

Com esse acontecimento - escreveu a escriptora - o Icó viveu horas inesquecíveis, traçou páginas immorreidoiras para a História, onde, desde a Indenpendência, fulguravam provas de seu alto civismo".

O texto da esccritora icoense é por demais detalhado e traz consigo momentos ímpares da história do Brasil sendo reescrita em Icó, naquele inenarrável dia 25 de março de 1883. Deixemos que Adília de Albuquerque Moraes nos aponte um pouco do clima em Icó:

Com que orgulho - pelos laços de afinidade que me ligam ao nobre povo dessa terra - relembro a commemoração da aurea data - 25 de março de 1883!

[....]

É inenarrável a mangnitude do solennissismo acto. É impossivel descrever a alegria, "os gritos de enthusiamo daquelle grande povo, em extase de adoração da gloria."

As ruas da cidade, neste dia, amanheceram festivas. Um aspecto desusado notava-se em todos os recantos.

Ao romper da aurora, a população foi despertada com o estrugir de 21 tiros, ouvindo-se, em seguida, os accordes do hymno da "Libertadora".

Pouco depois teve inicio o solenne Te Deum, "em acção de graças pelo faustoso acontecimento, que marcava nova éra de prosperidade à heróica cidade de Icó, abrindo-lhe a larga senda de um futuro esplendente, cimentado pela liberdade e animado pelas esperanças de igualdade cívica."

A tribuna foi ocupada pelo respectivo vigário, padre Manoel Francisco da Frota, "apostolo da causa augusta da redempção", cujo verbo eloquente, sahido dos labios do joven sacerdote de então, poz em relêvo o valor do elevadíssimo feito de seus parochianos, redimindo, de uma vez para sempre, a geração inteira de todos os escravos do município.

[...]

Repleto das principaes familias da terra, via-se ao centro toda a sua vereação com o presidente à frente, cidadão José R. Borges. Em lugares distinctos formavam os elementos feminino e masculino dos libertadores icóenses, cada qual presidido pelas figuras varonis de seus maiores - d. Joaquina Rabello e pharmaceutico João Jacintho de Sampaio.

Foi nesse instante sollenissimo que o presidente da edilidade , "em concisas e fortes expressões de civismo e nobreza", em voz alta e inteligível, de modo a não poder deixare menor dúvida,declarou:
< -- O município de Icó, desde este momento, não tem maiscaptivos! >

[...]

A noite do dia da esplendorosa sessão percorreu as ruas da cidade grande marche aux flambeaux (marcha das tochas),espetáculo estranho para os tempos, jamais visto em Icó.

[...]

A história está a dever-lhe uma das páginas para a "princeza dos sertões cearenses" daquelles inesquecíveis tempos, delirou-se nesse dia em que proclamou o seu território completamente livre de escravos.

A história está a dever-lhe uma das páginas mais brilhantes da abolição no Ceará.

Só o facto de haver sido A PRIMEIRA CIDADE LIVRE DO IMPERIO, em sua essencia "tão grande, tão nobre e tão admirável", valerá por um padrão de glórias.
Nos atendo a marche aux flambeaux (marcha das tochas), executada na noite da libertação dos escravos em Icó, vale destacar que é uma dança dentro de uma marcha, que foi criada em celebração pela tomada da Bastilha.

Com as invasões napoleónicas, para além dos valores da Revolução Francesa, ficou este costume, tendo o povo "aportuguesado" a palavra flambeaux, passando a designá-la de Marcha ao Flambó, em Lisboa. Na ocasião, os participantes levam o fogo nas mãos, através de velas, por exemplo.

Para sentir um pouco do som da liberdade icoense na noite de 25 de março de 1883, trazemos as duas partes da marche aux flambeaux, a música da luz libertária da sociedade icoense do século XIX:

PARTE I


PARTE II




Fontes pesquisadas:

Blog Fortaleza em Fotos


Blog Fortaleza NobreLink
Blog "O Pensar"

Blog "MyM"

Evolutionist Liberal Party of Ceará - Wikipédia

Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico)

Prodema UFC - Dissertação

Site "Mulher 500"

Site "Los Manolos"
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Publicado por Jornalismo

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