
Há muitos atores e atrizes que não tomam iniciativa criadora. Não preparam os papéis fora do teatro com que a sua imaginação e subconsciência joguem com a personagem que devem interpretar. Vêm ao ensaio e ficam esperando até serem encaminhados para uma linha de ação. Depois de fazer muito esforço, o diretor algumas vezes consegue tirar faísca dessas naturezas tão passivas.
Ou essas criaturas indolentes podem-se acender vendo os outros se firmarem, seguem-lhe a liderança ou se deixa contagiar pelos sentimentos em relação à peça. Depois de uma série dessas sensações de segunda mão, se realmente tiverem algum talente, é possível que despertem os próprios sentimentos e adquiram por conta própria o domínio verdadeiro sobre os papéis.
Só nós diretores sabemos quanto trabalha, inventividade, paciência, força nervosa e tempo são necessários para empurrar pra frente esses atores e atrizes de fraco impulso criador, para tirá-los do seu ponto morto.
As mulheres, em tais casos, costumam desculpar-se com encantadora coqueteria dizendo: "O que é que eu posso fazer? Não sei representar enquanto não sinto o meu papel. Assim que o impulso vier, tudo vai dar certo". Elas dizem isso com um pouco de orgulho e meio prosa, como se esse procedimento fosse um sinal seguro de inspiração e genialidade.
Terei, por acaso, de explicar que todos esses parasitas, que se aproveitam do trabalho e da criatividade alheia, são um incalculável estorvo para a realização do grupo inteiro? Por causa deles é que muitas vezes as produções têm de protelar a sua estreia semanas a fio. eles não só arrastam o seu próprio trabalho como também fazem com que o dos outros se atrase.
De fato, os atores e atrizes que contracenam com eles têm de se esforçar ao máximo para vencer-lhes a inércia. Isso, por sua vez, provoca o exagero, arruína-lhes os papéis, sobretudo quando já não estão muito seguros. Quando não recebem as deixas certas, os atores e atrizes conscientes fazem esforços violentos para despertar a iniciativa dos atores e atrizes lerdos prejudicando, com isso, a qualidade real de sua própria interpretação.
* Texto escrito pelo ator, diretor e professor Bené Tavares.
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