Editorial do Diário do Nordeste compara estaleiro de Fortaleza ao Trem que viria ao Icó

Que a história de Icó é rica, isso é certo e até repetitivo. Mas um texto desta semana trouxe o histórico e o novo para o âmbito comparativo.

O Editorial do Diário do Nordeste da última segunda (07), que passou despercebido durante a semana, comenta o problema do estaleiro, que se encontra em discussão sobre o local e sua viabilidade.

E, fazendo um paralelo histórico com um caso bastante conhecido entre os icoenses, rememora sobre a estrada férrea que passaria pelo Icó, porém que o intendente da época, Ilídio Sampaio, e correligionários não aceitaram. A figura do intendente corresponde ao de prefeito hoje e durou até o ano de 1930, quando substituída pelo de prefeito.

Resultado da recusa do trem em Icó: Esse foi um dos fatos que fizeram o município entrar em decadência contínua e ver sua "filha" Iguatu, antes distrito, a superar. O texto ainda cita o grande admirador da história icoense Miguel Porfírio (in memorian), com seu livro "Icó em Fatos e Memórias".

Comparações a parte, trazemos o texto para mostrar que escolhas podem manter ou não o crescimento de determinado local. E aí, não limitando-se aos números da economia. Com relação ao estaleiro, a questão é um mais complexa do que o caso icoense, pois vem a questão ambiental e seus impactos.

---> Para entender um pouco mais, veja o texto do editorial abaixo:

Decisão sobre o estaleiro -

Os sucessivos impasses que marcam o debate sobre a localização do estaleiro Promar na faixa litorânea de Fortaleza devem chegar, hoje, a um ponto final, ainda porque não existe mais tempo para adiar a decisão.

Depois de nove meses de negociações, espera-se a manifestação da Prefeitura de Fortaleza que anuncia ter se munido de cinco estudos técnicos sobre áreas disponíveis para a instalação dessa indústria de base. Ao que foi adiantado, um dos estudos sugere como locais adequados as praias do Pecém ou de Camocim.

Nada mais estranho, tendo em vista não compete à Prefeitura de Fortaleza opinar sobre locais fora de seus limites territoriais. Esse desvirtuamento de competência - alusão explícita a outros locais favoráveis - trai o propósito de rejeitar a construção do projeto na área do Município.

Que absurdo, se assim for! Seria jogar no lixo um possível embrião do desenvolvimento, aproveitando a fase de revigoramento da indústria naval, que já tem levado redenção econômica a outras cidades.

Quando todos os Estados abrem suas portas para empreendimentos produtivos, capazes de agregarem outras indústrias e multiplicar a oferta de empregos, torna-se inusitada esta postura dos gestores municipais, desde o princípio, de manifesta má vontade para com a iniciativa. Por certo, esquecem as lições da própria História do Ceará no episódio em que a cidade de Icó não aceitou a construção de uma estação de trem na sua sede.

A obra "Icó em fatos e memórias", de Miguel Porfírio, narra como a mentalidade retrógrada e a intransigência política levaram ao declínio essa rica e aristocrática cidade. O projeto da ferrovia, lançada em 1870, previa inicialmente chegar até Baturité.

Depois, com o sucesso da empresa, prenunciando a abertura dos sertões para o escoamento da produção agrícola e o comércio com a Capital, seus trilhos foram se expandindo e transformando as regiões por onde passavam.

Por sua localização geográfica, Icó era o maior entreposto comercial do Estado, promovendo trocas mercantis do Aracati ao Crato (dois extremos), a Paraíba, o Rio Grande do Norte e o Piauí, incluindo os Inhamuns. Os vestígios de sua arquitetura ainda testemunham esse período de fausto. O traçado da estrada de ferro alcançava o Icó por sua posição estratégica e pelo papel aglutinador que exercia.

Qual não foi a surpresa dos engenheiros da estrada ao ouvirem a recusa do intendente Ilídio Sampaio, apoiado por seus aliados, temendo a chegada de forasteiros e o impacto das mudanças sobre a economia e a elite icoense.

Depois dessa atitude inepta, a cidade mergulhou em rápido e inexorável processo de decadência. A estação ferroviária recusada foi instalada no município de Iguatu, que era antigo distrito do Icó e que, assim, conheceu a prosperidade e tomou a lideranças econômica e política da região.

Fortaleza corre esse mesmo risco. Alagoas já se prepara para acolher o estaleiro. É inconcebível que os políticos do Ceará estejam silentes, as entidades de classe não reivindiquem a obra, não protestem contra as manobras de rejeição. Por que tanta apatia? Quem terá a honestidade cívica de assumir a responsabilidade histórica da perda desse investimento?
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Publicado por Jornalismo

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