Na Ribeira dos Icós - O relato de Patroni (Parte III)

O quadro "Na Ribeira dos Icós" traz hoje a última parte da viagem de Patroni, em especial e com destaque com sua passagem pelo Icó em 1829. Para quem ainda não viu, veja a Parte I e a Parte II.

Na semana passada, o relato chegou à metade, no qual o viajante cita algumas epssoas e famílias que conheceu em Icó, revelando a boa receptividade dos icoenses.


VISÃO DIFERENTE - Por meio desses texto, buscamos trazer uma visão da cidade além de dados e fatos, colocando impressões subjetivas e humanas do Icó antigo. A nossa proposta é de olharmos com os olhos de quem viveu ou passou pela vila, uma das principais da província do Ceará.


O VIAJANTE - Durante o período da passagem nas diversas províncias, Patroni era advogado na Corte do Rio de Janeiro, quando foi nomeado juiz de fora da Praia Grande e Maricá. Após essa mudança, foi a Lisboa, portugal, retornou, e seguiu para o Pará, em janeiro de 1828. Nessa época casou e irira retornar ao Rio de Janeiro.


A VIAGEM - Porém, na viagem passou mal do estômago e, ao chegar no Ceará, resolveu fazer a viagem até a capital fluminense por terra. Portanto, a viagem retratada foi casual e não planejada.

Ele viajou, nos anos de 1829 1830, pelas províncias brasileiras, termo da época em referência aos estados. A viagem teve início no Ceará e passou por Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro, além do Rio São Francisco.

A publicação do livro "A viagem de Patroni pelas províncias brasileiras" somente foi feita pela mulher do mesmo, que instalou uma tipografia em casa.

Este livro será o qual traremos o relato do viajante casual pela Ribeira dos Icós. O capítulo V trata da "Viagem desde o arraial de São João até a villa do Icó". Aqui, abaixo, você verá a segunda parte das visões de Patroni sobre o Icó antigo.

Confira o texto abaixo
(da época, sem modificações):



" O Sr. José Pinto finalmente nos anunciou estarem promptos os arranjos que eu tinha exigido delle; em consequencia do que partimos do Icó no dia 17 de Julho pelas 4 horas da manhã, para evitarmos o acompanhamento processional que nos procurou o nosso hospede incansavel e excessivamente generoso, a quem deixamos saudosos, bem como a demais gente que tanto se interessava em favor nosso.

Levámos 5 dias até a villa do Crato, que dista da do Icó 32 léguas, pousando sempre em sitios muito amenos e aprazíveis, fundados a borda do Jaguaribe. Nas Mangabeiras (ou Tauhá) fui eu picado de um verme venenoso ao saír do banho de um rio: não se achou o animalejo homicida, julgou-se que seria uma especie de aranha que vive na areia immunda;

o veneno era tão forte que em um momento alastrou-me o pé todo; mas uma uncção de alho e limão extinguiu bem depressa a virus e a dôr, de sorte que anda mais senti, e pude ainda viajar aquelle dia. Foi esta a primeira e única molestia que tive no decurso da minha longa viagem.

Duas leguas antes de chegar ao Crato, jantei no engenho de Santo Antônio, propriedade do brigadeiro Leandro Bezerra, o qual, sobre nos haver feito um recebimento lisonjeiro, preveniu a respeito de minha chegada a seus ilustres filhos os Srs. coronel Gonçalo, capitão-mór Bezerra, e juiz ordinario José Geraldo;

e todos os tres nos fizeram a honra do acompanhamento, que se tornou numeroso e luzido com o encontro dos Srs. José Dias, negociante, e Candido, commandante da tropa de primeira linha.

Com este cortejo entrávamos na villa do Crato pelas 7 horas da tarde (noite) de 21 de Julho, e fomos pousar na bella hospedaria que já nos havia preparado o Sr. José Dias, a quem nos recommendára o Sr. Pinto, do Icó.

Que admiração não foi a minha, quando viu o meu amigo o Sr. Ciprianno arranjando no Crato a minah casa de hospedagem, da mesma sorte que o tinha já feito na villa do Icó! Fiquei surprehendido, e julguei que ele tinha a virtude de se reproduzir, qual outro Santo Antonio, que fui de Padua a Lisboa em uma Ave Maria livrar da forca de seu pai.

E o mais galante é que o tenho de vêr terceira vez arranjando-me o jantar na fazenda do coronel Pinto Madeira*, e quarta vez me hei de encontrar com elle na villa de Jardim em casa do vigario a obsequiar-me. Parecia um Baptista que prégava a vinda do Senhor, (si parvis licet magna componere) e que andava a preparar-lhe os caminhos no deserto.

[Fim do capítulo referente ao Icó] - Próxima semana, nova história...

_______________

* Joaquim Pinto Madeira, citado por Patroni, foi militar e rico proprietário rural, além de chefe político de Jardim, que depois se tornaria cidade. Ele nasceu em Barbalha, e, em 1829 tinha seus 46 anos de vida.

Ele faz parte da história de Icó, desde quando partiicpou de uma rebelião na vila do Jardim, partido para o Crato, contra a abdicação de Dom pedro I. Ele prendeu seus adversários liberais e depois teve de readmitir todos, por ordem da governo da Regência.

Daí vem a conhecida "Guerra do Pinto" ou "República do Cariri", onde Pinto Madeira combateu o general Pedro Labatut, um mercenário francês que atuava no Brasil a favor da independência. Com este enfrentamento, Madeira se rendeu perto do Icó, onde ocorreu grande batalha.

** Lembre-se de adequar o texto para os costumes e modo de vida de um Icó de 1829, ainda em crescimento. Porém nesta época não havia chegado Pedro Théberge (chegou em 1845) e muito menos existia o Teatro da Ribeira dos Icós. O Icó estava ainda no início do boom econômico.
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Publicado por Jornalismo

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