
Na semana passada, demos início ao relato, no qual o viajante cita a boa hospedagem na então vila (o que hoje pode ser equiparada a cidade) e comenta da expansão e grandiosidade do Icó de então.
VISÃO DIFERENTE - Por meio desses texto, buscamos trazer uma visão da cidade além de dados e fatos, colocando impressões subjetivas e humanas do Icó antigo. A nossa proposta é de olharmos com os olhos de quem viveu ou passou pela vila, uma das principais da província do Ceará.
O VIAJANTE - Durante o período da passagem nas diversas províncias, Patroni era advogado na Corte do Rio de Janeiro, quando foi nomeado juiz de fora da Praia Grande e Maricá. Após essa mudança, foi a Lisboa, portugal, retornou, e seguiu para o Pará, em janeiro de 1828. Nessa época casou e irira retornar ao Rio de Janeiro.
Ele viajou, nos anos de 1829 1830, pelas províncias brasileiras, termo da época em referência aos estados. A viagem teve início no Ceará e passou por Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro, além do Rio São Francisco.
A publicação do livro "A viagem de Patroni pelas províncias brasileiras" somente foi feita pela mulher do mesmo, que instalou uma tipografia em casa.
Este livro será o qual traremos o relato do viajante casual pela Ribeira dos Icós. O capítulo V trata da "viagem desde o arraial de São João até a villa do Icó". Aqui, abaixo, você verá a segunda parte das visões de Patroni sobre o Icó antigo. Confira o texto abaixo (da época, sem modificações):
" [...] Com bastante desafogo passei o tempo que estive em Icó: era meu visinho o muito honrado e muito velho Sr. Malheiros, major de ordenanças e administrador do correio, que, além destes empregos, topava tudo; fazia de médico e cirurgião do logar, e curava por um livro de Bom-tempo, cujas doutrinas e axiomas de Le Roy elle respeitava com profundo acatamento, com que o doutor Sangrado seguia à risca seus aforismos de água quente e sangria.
Sua casa era um rendez-vous não interrompido, e eu gastei alli também meus momentos, gostando da sua amável e divetida companhia.
Illustríssime domine, si bene valles vehementer gaudeo: Temos o Sr. Joaquim Theotonio, mestre de grammatica latina, que a tinha ensinado a cento e cincoenta (150) padres; e gordo e baixo, barrigudo e velho, continuava ainda no exercício de sua cadeira com grande aproveitamento da mocidade icóense.
Não era um desses grammaticos quinhentistas que se arrancavam os cabelos, uns aos outros, por causa de ser ou não accusativo a terminação se, que algum outro queria que fosse caso de nominativo; mas eu respeitava nelle um erudito consummado, um Vines e Policiano; E gostava de o ouvir, quando me repetia com enfaze o engenhoso palito, Forte ad Coimbram Venit.
Que affectos tão patheticos, que ardor, que gitaria, quando pronunciava aquelle verso: Irra! nos quoque gens sumus... Ficava electrisado, e para fazer ao vivo o cavalgare sabemus, montava sobre um banco, e punha-se a sacudir as pernas, como quem esporeava um cavallo para dar um galope.
Tive igualmente a fortuna de merecer a estima dos Srs. Henriques, Agostinho, João André *, e muitos outros cavalherios do Icó, aos quaes fui devedor de reiteradas demonstrações de amizade, que exigiram de mim sempre um sincero reconhecimento.
Minha mulher deveu também muito às senhoras Pinto **, que a honraram com a sua affeição: eu gostei infinito de vêr a delicadeza, com que se portavam no acto das visitas, o qual para cortezãs fingidas e refalsadas constituia uma arte de tregeitos, etiquetas e macaquices.
Polidas com nobreza, modestas com urbanidade; as senhoras Pinto são senhoras em tudo, e em tudo dignas de maior consideração e respeito de todo aquelle homem,
Quem tem visto as cidades e costumes
D'homens avessos à virtude austera "
[...A viagem continua daqui há dua semanas...]
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Obs: Lembre-se de adequar o texto para os costumes e modo de vida de um Icó de 1829, ainda em crescimento. Nesta época não havia chegado à então vila Pedro Théberge (que chegou em 1845) e muito menos existia o Teatro da Ribeira dos Icós. O Icó estava ainda no início do boom econômico.
* Seria o João André Teixeira Mendes - o Canela Preta? Caso afirmativo, teria nesta época 48 anos (nasceu em 17 de março de 1781);
** A refrida família Pinto pode ser a "Pinto Nogueira", de onde provém o comendador e presidente (hoje seria governador) do Ceará Antônio Pinto Nogueira Accioly, que nasceu em 11 de outubro de 1840.
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