Neste 06 de Janeiro de 2010, o Distrito de Guassussê, Município de Orós, completa seus 50 anos de surgimento. Como presente aos guassusseenses, presto o meu testemunho do que pode representar o inicio promisor da então "Vila Nova".
O Senhor MANOEL RAIMUNDO MONTANHA, popularmente conhecido como "Sr. Badeco", então proprietário das terras que se espalhavam desde o Sítio Trapiá, no Município de Icó até as divisas das terras dos Cândidos, na Jurema, Município de Orós, meu Avô paterno, homem fechado, porém de bons sentimentos, alimentava uma filosofia com o seguinte princípio: "Eu não ofereço o que é meu a ninguém, porém, se alguém me pedir eu não negarei ajuda."
Regular e diariamente, a Mamãe (ADILIA PINHEIRO TORRES), preparava as refeições do "Vovô Badeco" e um de nós, irmãos, levava para servi-lo, na sua casa (Sede do Sítio Trapiá) no Distrito de Lima Campos - Icó -CE.
Certo dia, coube a mim levar a merenda vespertina, por volta de 15:00hs, de cujo dia não consigo precisar. Após merendar, o "Vovô Badeco" costumava sentar-se à rede, no alpendre e fazia com que quem fosse levar suas refeições também ali permanecesse por vários minutos até que determinasse o retorno para nosssa casa.
Necessário se faz o retorno ao tempo para que melhor se entenda um pouco da história do início de Guassussê.
Com a construção do Açude Orós, as águas represadas inundaram a então "Conceição do Buraco", às margens do Rio Jaguaribe. Sem terem onde morar, as familias procuraram ajuda nas imediações e encontraram na pessoa de JOÃO PEREIRA FILHO, filho da Sra. MARIA OLÍMPIO que era filha do saudoso Sr. JOSÉ OLÍMPIO, proprietário de vasta faixa de terras incluindo os Sítios Túnel e Logradouro, entre os Municípios de Icó e Orós, que fez com que fosse doada uma faixa de terra no Sítio Túnel, entre os Sítios Logradouro e Trapiá.
Ali, as famílias imaginaram haverem encontrado o local onde se assentariam. Ledo engano. Após erguerem as paredes de várias casas e fincarem o Cruzeiro no centro do que seria a nova Conceição do Buraco, um dos herdeiros do Sr. JOSÉ OLÍMPIO, Sr. CARLOS OLÍMPIO, reprovou a atitude do bondoso JOÃO PEREIRA e determinou a derrubada de todas as paredes erguidas.
Da nossa casa, no Sítio Trapiá, via-se perfeitamente a nova vila se levantar, com a brvura daqueles Senhores. Também, podemos ver a derrubada das paredes, por discórdia de parte dos herdeiros daquelas terras. Isto fez-me ver as lágrimas escorrerem dos olhos da Mamãe, que olhava à distância e comentou, na oportunidade: "Meu Deus, o que será dessa gente?"
Poucos dias depois, exatamento no citado dia em que coube-me levar a merenda das 15:00h, do Vovô Badeco, naqueles minutos após merendar, olhou para a estrada, na direção de quem vinha das vazantes do Açude Lima Campos e perguntou: "Humberto, quem é aquela gente que vem lá?" Respondi: Nunca vi, Vovô."
A curiosidade do Vovô e a dos meus 7 anos de idade, logo foi saciada.
Tratava-se de um grupo de 16 pessoas, lideradas pelo saudoso Sr. ISAÍAS CÂNDIDO. Este falou em nome da Comunidade Conceição do Buraco. Relatou o que ocorrera com as famílias desde a inundação pelas águas do Açude Orós, até aquele momento aflito por que passavam.
A resposta do Vovô foi: "Humberto, cadeiras para os homens se sentarem. Corra na sua casa e peça a sua mãe para mandar chamar seu pai (JOÃO LUIS NETO), seus tios (JOSÉ LUIS NETO, ANTONIO LUIS NETO, RAIMUNDO LUIS NETO e ANA MARIA DE SOUZA) e para ela vir fazer café e merenda para este povo.
Após a chegada de Papai, meus tios e minha tia, explicada a situação, sugeriu: "Por mim, dou 100 (cem) braças quadradas para Nossa Senhora da Conceição, e nesta área que seja construida a Igreja, uma Escola e com o tempo uma Delegacia. Aqueles que têm condições de pagar um terreno, eu vendo por preço simbólico e os que não podem pagar, eu dou os terrenos para construirem suas casas. Isto se os meninos concordarem."
Os meninos eram seus filhos. O primeiro a se manifestar, por solicitação dos demais, foi o Papai. E como de prache disse: "Eu nunca discordei de nada que seja da vontade do meu Pai. Assim, eu concordo com ele". O tio ANTÔNIO, o tio MUNDICO(RAIMUNDO LUIS NETO e a tia GENÉLVA (ANA MARIA DE SOUZA), seguiram o Papai.
Contudo, veio a surpresa, o tio DÉ (JOSÉ LUIS NETO), assim se manifestou: "Eu não concordo. Mas como os meninos concordam e eu sou minoria, mesmo se a MARIETA estivesse aqui e me acompanhasse, nós seriamos minoria. Sendo assim, eu me dou por vencido e aprovo a sugestão do meu Pai."
Neste exato momento da manifestação do exemplo de respeito natural à democracia, surgiu a aprovação para que a então Vila Nova fosse construída no local onde é hoje porque, àquela época, alí era uma parada do Trem do ramal da Rede Viação Cearense (RVC) que fazia a ligaçao de Orós com Iguatú.
Inicialmente, a nova Vila foi chamada de "Vila Nova", "Vila Conceição", "Vila Nova Conceição" e por fim, GUASSUSSÊ.
A dignidade de um pouvo, que depositou na fé incontida em Nossa Senhora da Conceição, cuja imagem foi, por um bom tempo, escondida na casa do Vovô, no Sítio Trapiá - Icó - CE., para que não fosse levada para a Palestina, foi resgatada com a bondade do Sr. MANOEL RAIMUNDO MONTANHA, o Sr. BADECO, que honrou sua filosofia: "Eu não ofereço o que é meu a ninguém, porém, se alguem me pedir eu não negarei ajuda."
Presenteio os Guassueenses com este relato, por saber que são gratos à memória do meu Avô e seus Filhos. E orgulha-me saber que hoje o meu irmão JOÃO WELLINGTON LUIS MOREIRA, o popular DEÚ, é Vereador no Município de Orós pela terceira vês, com o aval do Povo de Guassussê.
Que Nossa Senhora da Conceição seja mantida nas preces e orações dos guassusseenses, por representar a tábua de sustentação da fé daquelas famílias que, àquela época só tinham uma certeza: Nossa Senhora da Conceição não os desamparariam. Como não os desamparou.
GUASSUSSÊ, TERRA DE PESSOAS DE FÉ, FELIZ 50 ANOS!!!!
São Paulo, 06 de Janeiro de 2010
*TEXTO DE MANOEL HUMBERTO LUIS MOREIRA (Advogado).
O Senhor MANOEL RAIMUNDO MONTANHA, popularmente conhecido como "Sr. Badeco", então proprietário das terras que se espalhavam desde o Sítio Trapiá, no Município de Icó até as divisas das terras dos Cândidos, na Jurema, Município de Orós, meu Avô paterno, homem fechado, porém de bons sentimentos, alimentava uma filosofia com o seguinte princípio: "Eu não ofereço o que é meu a ninguém, porém, se alguém me pedir eu não negarei ajuda."
Regular e diariamente, a Mamãe (ADILIA PINHEIRO TORRES), preparava as refeições do "Vovô Badeco" e um de nós, irmãos, levava para servi-lo, na sua casa (Sede do Sítio Trapiá) no Distrito de Lima Campos - Icó -CE.
Certo dia, coube a mim levar a merenda vespertina, por volta de 15:00hs, de cujo dia não consigo precisar. Após merendar, o "Vovô Badeco" costumava sentar-se à rede, no alpendre e fazia com que quem fosse levar suas refeições também ali permanecesse por vários minutos até que determinasse o retorno para nosssa casa.
Necessário se faz o retorno ao tempo para que melhor se entenda um pouco da história do início de Guassussê.
Com a construção do Açude Orós, as águas represadas inundaram a então "Conceição do Buraco", às margens do Rio Jaguaribe. Sem terem onde morar, as familias procuraram ajuda nas imediações e encontraram na pessoa de JOÃO PEREIRA FILHO, filho da Sra. MARIA OLÍMPIO que era filha do saudoso Sr. JOSÉ OLÍMPIO, proprietário de vasta faixa de terras incluindo os Sítios Túnel e Logradouro, entre os Municípios de Icó e Orós, que fez com que fosse doada uma faixa de terra no Sítio Túnel, entre os Sítios Logradouro e Trapiá.
Ali, as famílias imaginaram haverem encontrado o local onde se assentariam. Ledo engano. Após erguerem as paredes de várias casas e fincarem o Cruzeiro no centro do que seria a nova Conceição do Buraco, um dos herdeiros do Sr. JOSÉ OLÍMPIO, Sr. CARLOS OLÍMPIO, reprovou a atitude do bondoso JOÃO PEREIRA e determinou a derrubada de todas as paredes erguidas.
Da nossa casa, no Sítio Trapiá, via-se perfeitamente a nova vila se levantar, com a brvura daqueles Senhores. Também, podemos ver a derrubada das paredes, por discórdia de parte dos herdeiros daquelas terras. Isto fez-me ver as lágrimas escorrerem dos olhos da Mamãe, que olhava à distância e comentou, na oportunidade: "Meu Deus, o que será dessa gente?"
Poucos dias depois, exatamento no citado dia em que coube-me levar a merenda das 15:00h, do Vovô Badeco, naqueles minutos após merendar, olhou para a estrada, na direção de quem vinha das vazantes do Açude Lima Campos e perguntou: "Humberto, quem é aquela gente que vem lá?" Respondi: Nunca vi, Vovô."
A curiosidade do Vovô e a dos meus 7 anos de idade, logo foi saciada.
Tratava-se de um grupo de 16 pessoas, lideradas pelo saudoso Sr. ISAÍAS CÂNDIDO. Este falou em nome da Comunidade Conceição do Buraco. Relatou o que ocorrera com as famílias desde a inundação pelas águas do Açude Orós, até aquele momento aflito por que passavam.
A resposta do Vovô foi: "Humberto, cadeiras para os homens se sentarem. Corra na sua casa e peça a sua mãe para mandar chamar seu pai (JOÃO LUIS NETO), seus tios (JOSÉ LUIS NETO, ANTONIO LUIS NETO, RAIMUNDO LUIS NETO e ANA MARIA DE SOUZA) e para ela vir fazer café e merenda para este povo.
Após a chegada de Papai, meus tios e minha tia, explicada a situação, sugeriu: "Por mim, dou 100 (cem) braças quadradas para Nossa Senhora da Conceição, e nesta área que seja construida a Igreja, uma Escola e com o tempo uma Delegacia. Aqueles que têm condições de pagar um terreno, eu vendo por preço simbólico e os que não podem pagar, eu dou os terrenos para construirem suas casas. Isto se os meninos concordarem."
Os meninos eram seus filhos. O primeiro a se manifestar, por solicitação dos demais, foi o Papai. E como de prache disse: "Eu nunca discordei de nada que seja da vontade do meu Pai. Assim, eu concordo com ele". O tio ANTÔNIO, o tio MUNDICO(RAIMUNDO LUIS NETO e a tia GENÉLVA (ANA MARIA DE SOUZA), seguiram o Papai.
Contudo, veio a surpresa, o tio DÉ (JOSÉ LUIS NETO), assim se manifestou: "Eu não concordo. Mas como os meninos concordam e eu sou minoria, mesmo se a MARIETA estivesse aqui e me acompanhasse, nós seriamos minoria. Sendo assim, eu me dou por vencido e aprovo a sugestão do meu Pai."
Neste exato momento da manifestação do exemplo de respeito natural à democracia, surgiu a aprovação para que a então Vila Nova fosse construída no local onde é hoje porque, àquela época, alí era uma parada do Trem do ramal da Rede Viação Cearense (RVC) que fazia a ligaçao de Orós com Iguatú.
Inicialmente, a nova Vila foi chamada de "Vila Nova", "Vila Conceição", "Vila Nova Conceição" e por fim, GUASSUSSÊ.
A dignidade de um pouvo, que depositou na fé incontida em Nossa Senhora da Conceição, cuja imagem foi, por um bom tempo, escondida na casa do Vovô, no Sítio Trapiá - Icó - CE., para que não fosse levada para a Palestina, foi resgatada com a bondade do Sr. MANOEL RAIMUNDO MONTANHA, o Sr. BADECO, que honrou sua filosofia: "Eu não ofereço o que é meu a ninguém, porém, se alguem me pedir eu não negarei ajuda."
Presenteio os Guassueenses com este relato, por saber que são gratos à memória do meu Avô e seus Filhos. E orgulha-me saber que hoje o meu irmão JOÃO WELLINGTON LUIS MOREIRA, o popular DEÚ, é Vereador no Município de Orós pela terceira vês, com o aval do Povo de Guassussê.
Que Nossa Senhora da Conceição seja mantida nas preces e orações dos guassusseenses, por representar a tábua de sustentação da fé daquelas famílias que, àquela época só tinham uma certeza: Nossa Senhora da Conceição não os desamparariam. Como não os desamparou.
GUASSUSSÊ, TERRA DE PESSOAS DE FÉ, FELIZ 50 ANOS!!!!
São Paulo, 06 de Janeiro de 2010
*TEXTO DE MANOEL HUMBERTO LUIS MOREIRA (Advogado).
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