Quatro horas da madrugada do dia 14, terça feira, D. Jussara acorda com chuva, relâmpagos e trovões fortes. Senta na rede, faz as primeiras orações do dia e quando coloca os pés no chão sente que a casa está inundada.Como ela, foram todas as famílias do Bairro José Walfrido Monteiro, mais conhecido como Populares de Senhor Batista.
Quando o dia amanheceu já havia um mutirão formado por populares e cerca de 300 famílias apavoradas sem saber o que estava acontecendo e o que fazer em meio a correnteza superior a um metro em todas as ruas do Bairro.
Móveis, gêneros alimentícios, eletrodomésticos , tudo estava no meio da água que entrava pela porta da cozinha e saia na sala. Crianças, idosos, doentes, todos estavam à mercê dos cuidados dos voluntários que apareceram com espírito de solidariedade trazendo socorro e segurança para os moradores.
OS FATOS - A forte chuva que caiu na madrugada de 14 de abril, sendo registrada pela Ematerce em 102 milímetros, provocou a cheia rápida da barragem Gondim que tem escoamento através de ponte sob a BR 116, na perimetral da cidade. Descendo rápida e em grande quantidade, a água não encontrou a mesma vazão na ponte que fica na avenida de entrada da cidade, onde o Bairro está edificado.
A ponte está com uma de suas passagens aterrada e as duas restantes não foram suficientes para o escoamento. Represada, a água se espalhou por sobre as ruas e entrou nas casas sem pedir licença. “Foi um terror, acordar com a casa cheia de água e sem saber o que estava acontecendo. Todos ficamos em pânico. Minha mãe idosa, as crianças e todos do Bairro”, disse Ana Luiza Silva.
O socorro foi rápido. Caminhões enviados pela prefeitura e também por voluntários, carregavam móveis dos que queriam sair, a maioria, porém, preferiu ficar e esperar a água baixar.
“Não tenho para onde ir. Sair de minha casa para ficar arranchada em uma escola e tratada como indigente eu não vou”, disse Daniel Alves. Raimundo Brás, comerciante, disse que acordou com a família apavorada. “Não vi nada. Quando acordei tudo já estava debaixo dágua. Foi um sufoco. Conseguimos levantar as mercadorias e salvamos o principal”, disse.
Cláudio, um dos voluntários que prestaram socorro à população, disse que chegou às quatro horas e começou a retirar gente das casas inundadas. “A situação é preocupante, pois há muita gente apavorada e também muitos prejuízos”. Disse.
A imprensa esteve presente para registrar os fatos com as rádios transmitindo em horário especial. A reportagem encontrou o radialista Rubens Brasil, no meio das ruas inundadas, ouvindo as pessoas, solicitando ajuda e documentando os acontecimentos.
O líder político Jaime Júnior telefonou para a redação do jornal e disse que estava em Fortaleza, mas colocou através dos Paraibanos, seus familiares, caminhões para transportar móveis
das famílias que resolveram sair da área. A reportagem encontrou o vereador Ítalo da Paz, no meio da água, ajudando a socorrer as vítimas. “Este é um desastre natural que não se pode culpar ninguém.
Mas há fragilidades neste Bairro. Um dos meus primeiros requerimentos na Câmara foi para sanear este conjunto e também resolver a questão do canal com um muro de proteção.
Tenho conhecimento que Icó conseguiu cinco milhões para saneamento e pavimentação. Este Bairro está incluído no projeto e tenho certeza que situações como esta serão solucionadas para que não mais aconteçam”, disse o vereador.
Outra irregularidade que se observa no Bairro está por conta das construções irregulares com a invasão de áreas públicas. Um prédio de primeiro andar, construindo praticamente no meio do canal impede a passagem livre das águas e causa prejuízo para todo o Bairro.
Outra prática perigosa está por conta da criação de suínos em chiqueiros construídos na margem do canal. Porcos em meio ao lamaçal, espalhando fedentina e germes que contamina tudo. A vigilância sanitária não fiscaliza estas irregularidades que estão espalhadas por toda área urbana do Icó e o perigo para a saúde pública é evidente.
BAIRRO BNH - Também alagado em parte, mais de 50 casas foram invadidas pelas águas. Os moradores culpam a construção de uma creche que aterrou parte da lagoa e a água invadiu as casas. Muitas famílias ficaram desabrigadas e tiveram que deixar suas casas às pressas.
“Quando houve a primeira chuva, em janeiro, o prefeito esteve aqui e disse que ia mandar duas caçambas e uma retro escavadeira para aterrar um dique e abrir o canal coletor. A retro escavadeira esteve aqui trabalhando, mas as caçambas não vieram.
O resultado está aí, estamos dentro da água e a culpa é da construção da creche. A área foi aterrada e não foi feito nada para proteger nossas casas”, disse Neide Botão. O senhor João, também morador da área disse que este ano está diferente do ano que passou.
“Não estamos em ano de política e ninguém presta socorro. O ano passado tinha carro, avião, barco e tudo que fosse preciso. Mas era ano de eleição. Agora cada um que fique abandonado e se vire como puder”, disse com indignação.
O DIA SEGUINTE - A reportagem apurou os acontecimentos do dia seguinte. Dois representantes da defesa civil sediada em Iguatu estiveram nos locais. A situação foi avaliada como sob controle e não houve vítima nem desmoronamento de casas.
A secretaria de ação social informou que doze famílias foram socorridas e alojadas na escola Lourdes Costa e Cirão. Para elas foram fornecidas cesta básica e as próprias famílias estão buscando casas para se mudarem. A secretaria informou ainda que equipes dos CRÁS I e II estão fazendo levantamento para apurar as perdas com móveis e outros prejuízos.
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* Reportagem produzida e enviada por Getúlio Oliveira (editor-chefe do Jornal Notícias do Vale)
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