Pesquisadores e historiadores Altino Afonso e Arnóbio Cândido querem corrigir o erro histórico que atribui ao município apenas 166 anos de existência.A história do Icó é rica, controvertida e falha. Esta seria a primeira afirmação que se poderia dizer ao iniciar esta reportagem que pretende desencadear uma séria de informações, pesquisas, constatações e debates para se chegar ao estabelecimento da verdade sobre o processo histórico que emancipou o município e deu-lhe vida.
Na afirmativa inicial pode-se dizer que a riqueza histórica vem da bravura de um povoado nascido às margens de um rio, habitado por índios e disputado por duas famílias sesmeiras que queriam exclusividade sobre o território. Montes e Feitosas, por volta de 1700 já estavam nos Icós, dividindo o povoado em Icó de cima e Icó de baixo, ocupando as ribeiras dos Icós, dos Quixelôs, do Riacho do Sangue e circunvizinhas.
Brigaram anos a fio. Mataram e expulsaram índios e transformaram a região em criatórios com currais de gado e vivendas de passagens. O Arraial de Baixo, ou Arraial dos Fonsecas, foi destruído pelas cheias do Salgado obrigando a família a se mudar para a região dos inhamuns.
Em 12 de janeiro de 1708, o Icó de Cima ou Arraial dos Montes, foi concedido na forma de sesmaria para a família de Francisco Monte e Silva, que promoveu o desenvolvimento do povoado, edificou a primeira capela, onde hoje é a igreja de Nossa Senhora da Expectação e terminou se transformando na cidade do Icó.
Em seguida foram anos de opulência, criação de gado, importância política, econômica e social, edificação do patrimônio histórico e muitas história de riqueza, bravura e sangue. Este período foi conhecido pelo ciclo do couro, já que se transformou em entreposto para a criação e comercialização do gado.
Icó se transformou na principal parada do caminho das boiadas. Sedimentado o povoado e atingido nível de desenvolvimento superior ao da Capitania do Ceará, o povoado foi reconhecido e transformado em vila através da Carta Régia de 20 de outubro de 1736, assinada por D. João V, que veio a ser oficiada em 04 de maio de 1738 pelo Ouvidor do Ceará, Victorino Pinto da Costa Mendonça.
A partir da Carta Régia Icó passou a ter autonomia sobre suas decisões, podendo, inclusive, a partir de 1741, quando teve início o debate sobre a necessidade de construção da Casa de Câmara e Cadeia, criar uma finta, imposto próprio, com a finalidade de subsidiar a construção que somente veio iniciar-se por volta de 1780.
Outro fato importante é que Icó, no período imperial, já tinha uma Câmara Municipal organizada, com sete membros eleitos por colégio eleitoral e a administração do mun
icípio ficava confiada a um vereador eleito pelos demais.
icípio ficava confiada a um vereador eleito pelos demais.Esta história está documentada por escritas oficiais que desmoronam em livros cartorários sem as devidas condições de recuperação e conservação em cartórios do Icó e também nos arquivos do IPHAN em Fortaleza, além daqueles que estão no Museu do Ceará.
Também está registrada nas pesquisas e publicações da lavra de Padre Manuel Couto, Pedro Théberge, João Brígido, Raimundo Girão e vários outros, além da história oral deixada pelo estudioso e pesquisador Miguel Porfíro que tem tido prosseguimento pelos pesquisadores Arnóbio Cândido e Altino Afonso Medeiros.
Todo este preâmbulo serve para orientar o norte que se pretende dar a esta série de reportagens que o JNV fará em busca da verdade que poderá recolocar a história do Icó, pelo menos em data de criação, no devido lugar.
Pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, que a emancipação do Icó aconteceu a partir de 20 de outubro de 1736, com a Carta Régia, a exemplo do que aconteceu com Fortaleza, Sobral e Crato, valendo dizer que àquela época, Icó tinha mais importância política e econômica do que as três cidades citadas.
Altino Medeiros está preparando um livro básico para a compreensão de toda esta história, tomando por base documentos oficiais, bibliografia de livros já publicados e suas próprias pesquisas.
Para o início desta série conversamos com o historiador que tem posição firmada sobre o assunto, em entrevista realizada pelo editor Getúlio Oliveira, com a participação do diretor cultural Bené Tavares. A partir desta edição o debate está aberto.
Todos os historiadores, pesquisadores e autoridades poderão escrever seus manifestos sobre o assunto, tanto para o Jornal Notícia do Vale como para o site http://www.icoenoticia.com/. Os graduados em história do município estão convidados para a apreciação da matéria e também para emitirem suas opiniões. Este é um debate que interessa a todos os icoenses.
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JNV – Por que o senhor afirma que a data de emancipação do Icó está errada?Afonso – Não tenho a menor dúvida sobre esta questão. Àquela época os povoados elevados à categoria de vilas se tornavam emancipados e podiam agir como cidades, com autonomias diversas, inclusive para criar imposto próprio, como aconteceu com Icó.
A partir da Carta Régia de 20 de outubro de 1736, Icó ficou emancipado. O mesmo aconteceu com Fortaleza, Sobral e Crato. Posso afirmar então, inclusive com base em diversos historiadores, que estão erradas as datas de emancipação de Icó e também de Aracati, que é do mesmo dia, mês e ano.
JNV – Em sua opinião como este erro histórico poderá ser corrigido?
Afonso – Esta é uma atribuição que deverá ser abraçada pela Câmara Municipal. Em meu entendimento, os vereadores deverão compor uma comissão para estudo e aprofundamento de um projeto de mudança de data.
JNV – Em sua opinião como este erro histórico poderá ser corrigido?
Afonso – Esta é uma atribuição que deverá ser abraçada pela Câmara Municipal. Em meu entendimento, os vereadores deverão compor uma comissão para estudo e aprofundamento de um projeto de mudança de data.
Acredito que deverá haver assessoria jurídica e de historiadores que possam documentar os fatos. Será importante também que a população participe para integrar-se na decisão. Acredito que está na hora de se corrigir este erro histórico e presentear Icó com oficialização de sua data correta, 20 de outubro de 1736, completando em 2009, 273 anos.
JNV – Onde será possível pesquisar sobre o assunto?
Afonso – Historiadores como Pe. Manuel Couto, Pedro Théberge, João Brígido, Raimundo Girão e outros pesquisaram o assunto e constataram estas datas. Mas o que há de mais importante são documentos de escrituras de terras, compra e venda de escravos, ações criminais e muitos outros fatos que contam a história do município e estão se perdendo no Cartório do Primeiro Ofício de Icó por falta de condições de recuperação, acondicionamento e guarda.
JNV – Onde será possível pesquisar sobre o assunto?
Afonso – Historiadores como Pe. Manuel Couto, Pedro Théberge, João Brígido, Raimundo Girão e outros pesquisaram o assunto e constataram estas datas. Mas o que há de mais importante são documentos de escrituras de terras, compra e venda de escravos, ações criminais e muitos outros fatos que contam a história do município e estão se perdendo no Cartório do Primeiro Ofício de Icó por falta de condições de recuperação, acondicionamento e guarda.
Parte dos documentos está sendo recuperado pelo IPHAN, porém em processo muito lento. Icó precisa criar urgentemente o arquivo histórico municipal para guardar os documentos preciosos em condições de preservação para as futuras gerações. Este é um investimento mínimo para a garantia de guarda da história.
________________________________* Texto escrito por Getúlio Oliveira (editor-chefe do Jornal Notícias do Vale)
1 comentários :
Gostaria de recordar que ese assunto nós já o haviamos tratado no Blog Iconacional. Inclusive o fundo de lógica da emancipação a partir da criação de Vilas é do ilustre Dr. Antonio Carlos Palhares Moreira Reis, em excelente artigo que encontra-se na biblioteca do Senado Federal. http://iconacional.blogspot.com/2008/10/ic-cear-brasil-272-anos-de-emancipao.html
Washington, colaborador de Icó é notícia
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