Editorial do Jornal Notícias do Vale - edição 183

O custo do encontro de Brasília

Quatro mil e quinhentos prefeitos foram a Brasília para o encontro com o presidente.

Marinheiros de primeira viagem e experientes caminhantes dos corredores da Capital Federal amontoaram aeroportos e hotéis para ir ao encontro do mandatário da nação em busca de conseguir recursos e melhoria de condições para a realização do trabalho administrativo que está na responsabilidade de cada um.

E puderam ouvir de Lula que as dívidas das prefeituras com o INSS serão prorrogadas por 20 anos, dando alívio significativo ao caixa do tesouro municipal e possibilitando, inclusive, que muitas prefeituras possam ficar credenciadas para receberem recursos federais, principalmente do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, cuja timoneira chefe é a Ministra da Casa Civil Dilma Russeff, declarada candidata do presidente Lula para a sucessão que acontecerá em 2010.

Além da prorrogação da dívida com o INSS a ordem do presidente é facilitar para que prefeituras inadimplentes possam ficar com a ficha limpa, ainda que atropelando algumas regras e passando por cima de questões significantes como má aplicação de recursos e falta de prestação de contas.

A tônica atual é que tudo é válido para viabilizar a administração pública municipal e ajudar ao país passar este corredor polonês batizado com a palavra crise. Aliás, a crise que começou pelos Estados Unidos da América e se espalhou pelo mundo está servindo de justificativa para tudo, inclusive para esquecer ações delituosas de administradores contra o patrimônio municipal que teoricamente, e deveria ser também na prática, é de todos. 

Entretanto a atitude do presidente em levar para Brasília esta imensa quantidade de gestores municipais poderia não ser tão mal assim, caso não houvesse custo tão elevado e pago pelos municípios.

Comunidades pequenas, com orçamentos reduzidos e uma imensidão de problemas para serem resolvidos têm que ser administradas com muito cuidado, como se diz, na ponta do lápis, ou então as contas não se pagam. Todo custo deve ser repensado para saber qual a influência que terá na base administrativa e no fechamento das contas no final do mês. 

Os prefeitos que foram a Brasília não falaram pessoalmente com o presidente, nem com ministros, nem com qualquer autoridade governamental capaz de resolver problemas da municipalidade.

Entretanto, ouviram mensagens do presidente, de ministros e mais especificamente da comandante do PAC, Ministra Dilma Russeff. Dilma poderá ser candidata e já é pré-candidata do presidente.

Esta atitude foi entendida como jogada publicitária para apresentação oficial da Ministra como possível ocupante da cadeira mais importante da Nação. Os partidos da oposição, com certeza, não gostaram e estão acusando o presidente de ter antecipado a campanha de forma contrária à Lei Eleitoral.

Os prefeitos, por sua vez, utilizaram a viagem para trazerem na pasta uma bela fotografia, com as mesmas características eleitorais, posando sorridentes entre o presidente e a ministra. Pela foto pagaram R$ 30,00 e podem ter uma bela recordação que servirá para a posteridade e também para eleitores menos informados.

Isto tudo faz parte da grande fantasia da política e de Brasília. As fotos foram montadas por estúdios improvisados instalados provisoriamente no saguão do Centro de Convenções de Brasília, onde o evento se realizou.

Nenhum prefeito chegou perto do presidente ou da ministra para fazer uma foto individual, porém muitos dirão que a fotografia ilusionista é verdadeira e haverá muitos que acreditarão. 

Toda esta farra, sem se falar nas noitadas em hotéis e boates de Brasília, foi bancada com o minguado erário municipal e tudo isto poderia ser evitado com a utilização das tecnologia de vídeo conferência, ou mesmo com uma resolução presidencial que chegasse a cada gabinete dos municípios.

Com boa vontade, é possível acreditar que cada prefeito que esteve no Planalto Central acreditou que muitas das ações anunciadas serão realizadas e que alguma ponta de investimento poderá chegar a cada lugar. Se isto acontecer, pelo menos em parte, a culpa estará diminuída.
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Publicado por Jornalismo

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