
Um documento datado de 20 de agosto de 1744 que fala da situação de miséria devido à seca e encontra-se no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa.
Os fatos, com quase 270 anos e com sinais ainda presentes nos dias atuais, da seca, trouxe o Icó à tona na edição de dezembro de 2013 da Revista de História da Biblioteca Nacional.
Esta foi a segunda vez que o Icó se fez presente em matéria da referida revista. A primeira vez foi em agosto do ano passado, quando citava do uso de armas pela população em geral.
Na edição nº 099 do periódico nacional apresenta, na seção "decifre", a manchete com o titulo "Súplica Cearense", na qual é apresentado um requerimento assinado pelo cura [padre] João Saraiva de Araújo, da vila do Icó, no Centro-Sul cearense.
O texto [ao lado], é "um pedido ao então rei de Portugal, D. João V, para comprar ornamentos e paramentos para a igreja da vila de Icó, em situação de miséria devido à seca", aponta a revista.
Conforme a matéria, "o padre pedia melhores condições de trabalho para administrar a vida espiritual dos vassalos de Sua Majestade, para que não lhes falte o 'pasto espiritual'. O Ceará era uma das capitanias mais pobres do Brasil Colônia."
A referência do padre de Icó era de pertencer à freguesia de Nossa Senhora da Expectação do Icó, capitania do Ceará Grande, que fazia parte do Bispado de Pernambuco. No requerimento, o cura afirmava que, ao tomar posse no Curato de Icó em 1742 "achei a Igreja Matriz tão falta de ornamentos, e paramentos necessários para cinco altares com o maior e outras tantas portas com a principal, e um púlpito, que já os não tem capazes com que se celebrem os sacrifícios nas festas solenes, e ofícios funerais, sendo motivo e causa a grande pobreza desta terra, na qual suposto hajam alguns efeitos de gados vacum e cavalar, estes há bastante anos não rendem dinheiro pela falência do negócio, além de estar muito destruída, e vexada com secas e esterilidades que tem experimentado", dizia.
"Além da situação caótica da vila do Icó, o documento é um testemunho da relação entre Igreja e Estado, quando os religiosos eram funcionários da Coroa e dela dependiam para tudo. O monarca era quase onipresente em qualquer rincão de seus domínios", pontua o texto do periódico, que apresenta todo o texto 'traduzido' do pedido feito pelo então cura do Icó.
Haja vista o procurador da fazenda. Lisboa, 23 de janeiro de 1745.
[Rubricas dos conselheiros do Conselho Ultramarino]
Informe o provedor da fazenda real de Pernambuco
com seu parecer. Lisboa, 10 de fevereiro de 1745.
[Rubricas dos conselheiros do Conselho Ultramarino]
Este requerimento é de
graça a que Sua Majestade
deferirá como for servido.
[Rubrica – não é possível identificar]
Senhor
Provido no benefício de cura desta freguesia de Nossa Senhora da
Expectação do Icó, capitania do Ceará Grande, por provimento
de meu Prelado e Excelentíssimo Bispo de Pernambuco, entrei a exercer
o ofício pastoral, e tomando posse do curato no ano de mil sete-
centos e quarenta e dois achei a Igreja Matriz tão falta de
ornamentos, e paramentos necessários para cinco altares com o maior
e outras tantas portas com a principal, e um púlpito, que já
os não tem capazes com que se celebrem os sacrifícios nas festas
solenes, e ofícios funerais, sendo motivo e causa a grande pobre-
za desta terra, na qual suposto hajam alguns efeitos de gados
vacum e cavalar, estes há bastante anos não rendem dinheiro pela
falência do negócio, além de estar muito destruída, e vexada com secas
e esterilidades que tem experimentado, à vista do que brevemente ficará
o povo sem o pasto espiritual, se Vossa Majestade como monarca tão
zeloso do culto divino não posar os olhos de sua benigna piedade
e clemência em tanta necessidade, provendo a dita matriz com os ditos
ornamentos, e paramentos por esmola, para maior honra de Deus,
e salvação de seus católicos vassalos. Vila do Icó, 20 de agosto
de 1744.
Os pés de Vossa Real Majestade
os beija o mais reverente e leal vassalo
João Saraiva de Araújo
Do cura do Icó
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