A poucos dias a nossa humilde cidade foi solapada com a trágica notícia de que adolescentes conterrâneas nuas e seminuas estavam sendo expostas na rede mundial de computadores.
De fato, a exposição das fotografias das garotas peladonas nos serviu para alguma coisa: entender até que ponto a imagem fala acerca da verdade dos fatos.
Há um teórico indiano que aborda a questão da imagem e ele diz o seguinte: “A imagem é apenas e sempre um acessório da autoridade e da identidade; ela não deve nunca ser lida mimeticamente como a aparência de uma realidade” [Bhabha, 1998:70-104].
O que ele quer dizer com isso é que nunca devemos julgar uma imagem, seja ela qual for, como a realidade factual. Ela está ligada mais a uma visão residual da realidade, é apenas uma aproximação verossimilhante, bem longe de ser a realidade propriamente dita.
A questão abordada neste artigo diz respeito aos fatos que estão por trás de todo o burburinho causado pelas postagens das fotos num blog clandestino. Vale ressaltar que me posiciono contrariamente a exposição e uso da imagem indevidamente e principalmente aquelas que incentivam as práticas da pedofilia.
Mas o fato é que, vemos uma parcela generosa da nossa cidade condenando o blogueiro que divulgou as imagens das inocentes garotas e obliteraram o verdadeiro eixo discursivo das imagens, que é perceber que a nossa juventude trás a tona uma sexualidade exageradamente antecipada, imatura, imprudente e que está cheia de não fazer nada.
Os jovens de uma cidade do interior do ceará não estão muito aquém dos acontecimentos do mundo, dos modismos, das tendências e novidades que o mundo globalizado expõe. As jovens fotografadas em questão, todas sabiam muito bem o que estavam a fazer e tiraram as fotos conscientes da imagem que estava sendo apreendidas pela maquina fotográfica. A exposição foi consentida.
Há de ser perceber que todas as fotos foram de muito bom gosto, planejadas e que se percebe muito mais o ego saltitante dessas ninfetas que mal saíram dos cueiros do que a nudez si.
A atual crise identitária da nossa sociedade fragmentada leva o jovem a recorrer aos meios mais efêmeros de prazer e nada mais forte e funcional do que a imagem. É a imagem o instrumento mais significante dentro dos nossos inúmeros meios propagandísticos e nada vende melhor do que a imagem.
Essas garotas querem vender uma imagem: a imagem de garota descolada, sensual, madura, decidida – quase um “show das poderosas”.
O pior é que elas não conseguiram.
Porém, restam as pessoas que não julgam o caráter de ninguém pela imagem entender o porquê delas se exporem dessa maneira e ver qual o verdadeiro culpado disso tudo.
Então questiono: quem é culpado de verdade? As garotas imprudentes? Pais que não exercem sua função primordial que é educar? Nossa sociedade fragmentada e efêmera? O blogueiro malicioso e tarado?
Respondo às todas as perguntas numa só resposta: ninguém é culpado.
“As garotas do Icó” já eram muito bem conhecidas do publico libertino icoense, de quem frequenta as noitadas quentes da cidade. O blogueiro simplesmente compilou as imagens que já era de domínio público de toda a cidade, que outrora já tinha visto as fotografias. Quanto a nossa sociedade, essa é a que tem menos culpa, pois é móvel, maleável, muda constantemente. Logo, logo, essas imagens irão sumir da sorumbática mídia icoense e virão outras garotas ou garotos peladões.
A sociedade somos nós, são as garotas peladas, são os políticos corruptos, são os pais desajustados, são as escolas obsoletas, etc. Uma eterna roda da vida, na qual sobrevivem os mais adaptáveis.
No final da história, creio que a única coisa que devemos fazer agora é termos um pouco mais de cuidados com fotografias e principalmente com a nossa estética física, pois caso as imagens vazem para internet os taradões da nossa fiel e honrada sociedade cristã possam, ao menos, apreciar uma masturbação tendo uma boa visão do corpo que deus nos deu!
Uma dica as meninas do blog: considerem-se proclamadoras dos gritos da juventude subalterna!
* Texto escrito e enviado por Chico Carneiro - Licenciado em Letras pela UECE e mestrando em Letras pela UERN
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