A morte

Esta semana morreu uma mulher por quem eu tinha admiração. Não que ela fosse assim especial para mim, na verdade era uma pessoa comum, mas secretamente angariava a minha simpatia. Teve vários filhos, e os criou todos alicerçados em valores morais sólidos, pessoas de bem.

Às vezes, eu a encontrava com o semblante cansado, outras radiante, outras ainda com a contrariedade estampada no rosto; ou seja, uma mulher como qualquer uma de nós.

Mas, acompanhei a sua trajetória de vida, principalmente através da vida de seus filhos; pessoas que, por extensão, também aprendi a admirar. Todos com qualidades e defeitos, gente como a gente; que acerta e erra, mas pensando melhorar.

Quinze dias atrás eu a vi saindo de uma clínica médica. Sua situação de saúde agravada era visível, e fiquei chocada com a imagem de alguém que fora tão forte tão debilitada. Eu chorei. Pedi a Deus por ela quase que instantaneamente.

Elevei uma prece para o seu conforto, e corri abraçar minha mãe, como se pudesse conter o avançar da idade com os meus braços. Estava paralisada diante da constatação do que a velhice e a doença podem fazer com alguém.

Quando a morte se aproxima, manda sinais que alguns percebem. Meu filho diz que não posso falar quando sinto alguém debilitado, pois dias após essa pessoa morre. Pensando nisso foi que percebi que a morte manda sinais de que está chegando.

Principalmente, quando se está ficando velho. É como um conjunto de luzes que começa a apagar, cada dia uma pequena chama, até que se faz completa a escuridão. Pensando por esse lado, morrer não é tão assustador assim. A gente vai descansando da frenética correria do dia a dia aos poucos. Cada dia um pouco mais. A gente vai se desligando deste mundo e se ligando num outro diferente, menos denso, mais leve.

A dor pesa, a doença pesa, a velhice pesa... Deixar esse peso não é assim tão ruim como muitos avaliam. Na verdade, é uma espécie de desprendimento em que, pouco a pouco, vamos nos despedindo de nossa vitalidade física para abraçar nossa vitalidade espiritual. É uma passagem.

Nosso corpo físico vai abrindo as portas para liberação de nosso espírito que já se sente sufocado pela falta de espaço. A velhice traz essa lentidão necessária para se perceber, para entrar em contato com aquilo que não enxergávamos, mas que sempre esteve ali conosco. É melancólico, sem dúvida, como todo processo de amadurecimento, mas é libertador. Não há como viver para sempre aqui na Terra.

Minha amiga descansa em paz neste momento, tenho certeza. Ela cumpriu a sua missão. Viveu. Criou seus filhos. Legou ao mundo um pouco de tudo o que aprendeu e assimilou, perpetuando-se nas gerações que vieram depois, estando um pouco presente mesmo em seus netos.

A vida é assim. Ela se transforma. Uma parte de nós é assimilada pelos nossos, outra pelas pessoas que nos cercam, outra ainda volta para o Criador. O Senhor Deus nos acolhe e nos livra desta roupagem já desgastada.

Ele restaura nossas forças, alinhavando-nos novamente junto Dele, onde nos sentimos mais plenos e gratificados. Se você está velho, não tenha medo da morte. Ela é só mais uma etapa. É a vida em transformação. Aposto que a plenitude está do lado de lá!

_________________________________________
* Texto escrito e enviado pela escritora Maria Regina Canhos Vicentin [E-mail: contato@mariaregina.com.br - Site: www.mariaregina.com.br].
Publique no Google Plus

Publicado por Jornalismo

This is a short description in the author block about the author. You edit it by entering text in the "Biographical Info" field in the user admin panel.
    Comentar no Site
    Comentar usando o Facebook

0 comentários :