Icoenses que fazem história - Antônio da Graça Caminha

Caminha foi um dos precursores, no Ceará, do
Esperanto, Língua planejada para tornar-se mundial


Nascido no interior cearense, mais precisamente em 1887, em anos mais a frente seria, segundo contemporâneos, um dos "espíritos mais exaltados na pequena Fortaleza do início do século XX".

Antônio da Graça Caminha teria, em seu futuro, o traçado do professor, jornalista, e um dos maiores divulgadores do Esperanto, língua planejada com o objetivo de tornar-se um idioma internacional. Além disso, Moacir Caminha, como também seria conhecido futuramente, foi taxado de anarquista, por suas ideias ditas revolucionárias.

ENSINO DE ESPERANTO - Apesar de abrir os olhos pela primeira vez na "Princesa dos Sertões", pouco tempo residiu na mesma, partido para a capital cearense, Fortaleza. Um dos capítulos de destaque em sua vida foi de defesa, naquelas terras, do Esperanto como língua oficial do planeta. Recebendo influência dos esperantistas franceses, em publicações diversas, anotava tudo o que lia.

Essas informações viriam a embasá-lo para a criação de um curso de Esperanto, formalizado no dia 3 de novembro de 1911, na “Escola Moderna do Ceará“, da qual ele era diretor. Esse curso teve o nome de “Terra e Liberdade” e funcionou na Rua Senador Pompeu, 241, Fortaleza.

No dia 1º de dezembro daquele mesmo ano, Caminha viria a criar um novo curso de Esperanto que funcionou na Rua Barão do Rio Branco, 232, Fortaleza, com as seguintes alunas: Ceci Abreu, Maria de Lourdes Abreu, Maria do Carmo Abreu, Maira Luiza Abreu, Maria Antonieta de Abreu, Frutuosa Araújo, Maria Anésia Ferreira, Maria José Ferreira, Rosa Ferreira, Ofélia Abreu Gomes e Lélia Lustosa Vasconcelos. O “Jornal do Ceará”, de Valdemiro Cavalcante, anunciou o acontecimento no dia 6 de dezembro.

Moacir participou ativamente no Esperanto-Klubo Cearense e na sua reorganização em 3 de agosto de 1917. Com ele, estavam Eurico Pinto, Josias de Moura, Joaquim Bessa Pereira, Manoel Mendes Queiroz, Francisco Assis do Rego Falcão, Francisco Paula Medeiros e Raimundo Guedes da Mota, nomes tutelares que o esperantismo local reverencia.

O Esperanto-Klubo Cearense era uma sociedade “sui-generis”, não tinha presidente e ninguém era obrigado a pagar mensalidade. A diretoria era composta de um secretário e um tesoureiro. O presidente era aclamado a cada sessão, pelos presentes. O clube funcionava na Rua Major Facundo, 256, Fortaleza. Embora tenha mantido vários cursos, teve vida efêmera.

Graça Caminha era conhecido como o Hipócrates do esperantismo do Ceará. A prova de tal fato viria quando foi eleito sócio do “Nova Samideanaro” em 30 de abril de 1919. Em sua mente, não distinguia facções religiosas, políticas e filosóficas. Mesmo sem ser católico, ele propôs para novo sócio da "Nova", o Arcebispo Metropolitano, D. Manoel da Silva Gomes.

No dia 29 de janeiro de 1922 ele deu à publicidade de “Brazila Vivo”, segunda revista em Esperanto publicada no Brasil e a primeira no Nordeste (Francisco Falcão). No dia 30 de julho de 1923 publicou nova revista totalmente em Esperanto, denominada “Nova Mondo”. Moacir Caminha mudou-se para o Rio de Janeiro onde continuou a trabalhar em favor do Esperanto.

A semente de Moacir vingaria, e o futuro confirmaria tal fato. Em 1912, chegava à Fortaleza, vindo da Bahia, Demócrito Rocha, que, sendo outro idealista, abraçou a bandeira do Esperanto. Já em 1913, junto com Eurico Pinto, o primeiro clube de Esperanto no Ceará.

JORNADA DA ESCRITA - Paralelamente à paixão do Esperanto, o icoense se dedicaria a arte de tecer palavras, transfigurar pensamentos e crenças em comunicação. Seu referencial de pessoa foi influenciado por seus contatos com pessoas que questionavam a injustiça e recusavam o capitalismo como forma de organização social. Em 1908, inicia oficialmente sua projeção, com o jornal "O Regenerador", trabalho realizado em conjunto com alguns companheiros.

O periódico não durou o tempo esperado, mas deixou sua marca em uma capital ainda dominada pelo conservadorismo dos Acciolys, que tinha à frente o icoense Antônio Pinto Nogueira Accioly, que foi presidente (governador) do Ceará dos mais influentes na política regional para a época.

O folheto jornalístico buscava, segundo seus dizeres, não somente questionar no no nível das ideias, mas sim "construir um novo caminho para a humanidade". Aponta-se que neste jornal apareceram as primeiras letras reconhecidamente anárquicas no Ceará.

Nas páginas, além dos escritos de jovens militantes, textos de Gorki e Kropotkin. Estes, pertencentes à filosofia política que engloba teorias, métodos e ações que objetivam a eliminação total de todas as formas de governo compulsório, o anarquismo. De um lado o apelo à pobre condição do humano nas linhas de Gorki, do outro o chamado aos jovens de Kropotkin para as novas ideias anárquicas.

INICIATIVAS - Em uma época de ações voltadas ao pensamento da anarquia, Caminha deu início aos trabalhos do Clube Socialista Máximo Gorki, Grupo Libertário de Estudos Sociais, Agência Libertária de Estudos Sociais, Grupo Libertário Amigos d’A Plebe, além de participar no Comitê Pró-Flagelados da Rússia e na Liga Operária Independente.

Após o jornal O Regenerador, incursou no Jornal da Manhã e O Radical, além de colaborar em muitos outros pelo Brasil. Chega os anos de 1940 e, juntamente com sua companheira, Maria Ieda de Morais, funda o semanário comunista libertário "Remodelações", no momento pós ditadura do Estado Novo e uma das tentativas de reorganização dos anarquistas brasileiros.

No "Remodelações", Moacir Caminha publica as Bases Constitucionais da República Comunista Libertária do Brasil, fato este que geraria, nos anos seguintes, longos debates no meio anarquista da época, dos quais José Oiticica era um deles.

Chegaria a década de 1960 e, com mais de 70 anos de vida, Antônio da Graça continuava o seu ofício de professor no Centro de Estudos José Oiticica, localizado no Rio de Janeiro (RJ), provável local de sua morte. Sua continuidade no ideal seguia suas próprias palavras, quando jovem, em um dos editoriais d'O Regenerador:
“E jamais nos falte o ardor e fé na vitória certa do socialismo, que erguerá um dia o templo novo das crenças sociais, onde a Solidariedade e a Igualdade serão divindades onipotentes da vida humana. Regenerar Combatendo”.

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Publicado por Jornalismo

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