Literatvs - Gonçalves Dias: A História

Triste lição de experiência deixam
Os evos no passar, e os mesmos atos
Renovados sem fim por muitos povos,

Sob nomes diversos se encadeiam:
Aqui, além, agora ou no passado,
Amor, dedicação, virtude e glória,

Baixeza, crime, infâmia se repetem,
Quer gravados no soco de uma estátua,
Quer em vil pelourinho memorados.


Eis a história! — rainha veneranda,
Trajando agora sedas e veludos,
Depois vestindo um saco desprezível,

D'imunda cinza apolvilhada a fronte.
Se as virtudes do pobre não têm preço,
Também dos vícios seus a nódoa exígua

Não conspurca as nações; mas ai dos grandes,
Que trilham senda errada, a cujo termo
Se levanta a barreira do sepulcro,

Onde se quebra a adulação sem força.
Se virtuoso, as gerações passando
As cinzas lhe beijaram; se malvado,

Cospem-lhe afrontas na vaidosa campa,
Jamais de amigas lágrimas molhada.
E qual do Egito nos festins funéreos,

Maldizem bons e maus sua memória,
Lançando à face da real mumia
Dos crimes seus a lacrimosa história.

Talvez, porém, um infortúnio grande,
Um exemplo sublime de virtude,
Cobre dourada página, que aos olhos

Pranto consolador sem custo arranca.
Eis a história! um espelho do passado,
Folhas do livro eterno desdobradas

Aos olhos dos mortais; — aqui sem mancha,
Além golfeja sangue e sua crimes.
Tal foi, tal é: retrato desbotado,

Onde se mira a geração que passa,
Sem cor, sem vida, — e ao mesmo tempo espelho,
Que há de ser nova cópia à gente nova,

Como os anos aos anos se sucedam.
Ondas de mar sereno ou tormentoso,
As mesmas na aparência, que se quebram
Sobre as d'areia flutuantes praias.

___________
* Texto do poeta Gonçalves Dias (* Caxias-MA, 10/08/1823 ----- + Guimarães-MA, 03/11/1864), participante do Romantismo - Do site Rua da Poesia
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Publicado por Jornalismo

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