Hoje sinto uma tristeza profunda invadindo minhas entranhas, uma enorme onda de nostalgia inunda meus pensamentos; ora penso em viver, outra em morrer. O que devo fazer? Vejo minhas lindas ruas esburacadas, nem de longe reconheço minhas praças abandonadas, sinto vergonha em receber visitas, pois meu Terminal Rodoviário mais parece uma guarita de tão feio que está. O rio há! Esse pobre sobrevivente vive como eu, cheio de lixo! Meus filhos trabalhadores, agricultores e comerciantes, cadê o brilho da minha gente? Vivem sofridas, oprimidas, meu nome está sendo esquecido, só lembra-se do passado, aquele que se contam como eu surgi. A esperança que por aqui um dia existiu, já não se vê nos olhos dos meus filhos.
Quando surgi, havia grandes expectativas com relação a mim, faziam-se planos ao meu crescimento e desenvolvimento, tive dias de glória, já fui muito importante para nossa história! Tive vários filhos de honra e glória. Dei o melhor de mim para que o progresso aqui surgisse, de vilarejo passei a ser cidade, tinha tudo para ser imponente, pois abraço uma das mais importantes estradas, que os homens a chamam de Br-116, para irem e virem para o sul do país precisa passar por mim. Esses meus filhos cresceram, estudaram e logo me tornei pequena para eles, partiram a procura de outras melhoras, alguns conseguiram suas vitórias, uns se decepcionaram e voltaram, outros não precisaram partir, aqui mesmo conseguiram progredir, alguns se esqueceram de voltar ou preferem nem se lembrar de onde um dia partiram, não pareço para eles um bom início. Há os que sentem saudades e retornam, fala com os olhos marejados lamentando meu martírio.
Ouço dizer que estou muito doente, até mesmo na UTI. Mas, não compreendo, como assim? Se me sinto disposta, aberta para novas mudanças, pronta para o desenvolvimento, não foi isso que me prometeram os meus filhos ilustres, que cuidariam de mim? É bem verdade que às vezes amanheço assim, como hoje, triste nem mesmo o sol quer saber de brilhar em mim! Como posso ter alegria, vendo meus filhos e enteados angustiados sem terem a quem pedir socorro, outros envergonhados, pelos erros e desacertos que um dia cometeram. Não julgo nem um deles, porque sei que no fundo só queriam o nosso bem. Mas, se estou tão doente assim porque não vêem me socorrer? Tenho tantos filhos formados, médicos e advogados até mesmo operários! Quanto tempo me resta antes da minha morte? Preciso saber! Dessa forma me deixam com minha auto-estima lá em baixo, já não tenho forças suficientes para refletir! Há, esse ar que mais me faz enfartar, não me refiro à poluição, pois não possuo indústrias nem mesmo grandes congestionamentos, ainda não cresci! Lamento essa minha situação, se a maioria de meus filhos tivesse o ganha pão, não passaria tanta humilhação. O ar que me sufoca e esse ar paira sobre mim, como se eu não tivesse jeito e meus filhos não fossem dignos de mim.
Por favor, alguém avise por aí que eu estou aqui, ainda não morri! Nesse dia das mães quero que alguns de meus filhos façam alguma coisa por mim! Porque eu sou Icó! A Princesinha do Sertão, cidade de grandes patrimônios históricos, banhada pelo Rio Salgado, abençoada pelo Senhor do Bonfim, como podem dizer que estou perto do fim!
Sei que ainda sou invejada por algumas de minhas vizinhas, amada por muitos de meus filhos que aqui permaneceram, enraizaram-se e cresceram junto a mim.
Não dêem ouvido aos que falam por aí que nada mais preciso, escutem sim aqueles que vêem em mim um início de uma grande metrópole.
Texto escrito por CRISTIANE B. ARÁUJO
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1 comentários :
Cristiane, parabéns pelas suas palavras. Que bom seria se elas conseguissem tocar a todos nós icoenses.É dever de todo icoense amar e fazer alguma coisa pela nossa cidade.
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